Céu limpo

Bem longe de nós, a 120 anos-luz da Terra, em um exoplaneta do tamanho de Netuno, foi descoberta água em forma de vapor. É a primeira vez que cientistas conseguem observar a atmosfera de exoplanetas desse porte, considerado pequeno.

O vapor foi detectado por pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, no planeta HAT-P-11b com a ajuda dos telescópios espaciais Hubble, Spitzer e Kepler. Apesar de ter um raio quatro vezes maior que o da Terra, o planeta é considerado pequeno, fato que parecia ser uma barreira para o achado. Isso porque a maioria dos planetas desse porte estudada até então era coberta por densas nuvens que dificultam o estudo de sua atmosfera e composição.

Porém, no caso do HAT-P-11b, os pesquisadores tiveram uma grata surpresa: sua atmosfera é bem clara e sem nuvens e, assim, foi possível detectar a presença das moléculas de vapor d‘água. “Nossa descoberta revelou que nem todos os exoplanetas pequenos e quentes têm atmosferas nubladas”, conta o astrônomo Jonathan Fraine, da Universidade de Maryland.

Atmosfera de exoplanetas
Apesar de ser pequeno, o exoplaneta (à direita) não tem uma atmosfera nublada como a maioria do mesmo porte (à esquerda). (imagem: NASA/JPL-Caltech)

Para saber a composição da atmosfera do exoplaneta, os cientistas analisaram o seu espectro luminoso, a luz que ele reflete da estrela que orbita. Com esse dado, os pesquisadores conseguem saber os elementos químicos que compõem sua atmosfera, o que não poderia ser feito se houvesse nuvens espessas bloqueando a luz.

“Com a técnica utilizada, a espectroscopia de transmissão, fomos capazes de ver pequenos desvios no comprimento de onda da luz emitida, de tal forma que sabíamos que tínhamos detectado vapor d‘água em nossas observações”, conta o pesquisador.

Água espacial

Apesar de a presença de água estar associada à possibilidade de existência de vida fora da Terra, nesse caso, a descoberta não revelou nada nesse sentido. “A água foi importante para a formação de vida na Terra, mas não é necessariamente um sinal de vida”, afirma Fraine. “Achar água no HAT-P-11b não diz nada sobre a possibilidade de ter vida nesse planeta. Além do mais, o fato de o vapor estar a uma temperatura de 900 K [593 ºC] praticamente descarta essa possibilidade.”

Fraine: “Nosso estudo mostra que podemos encontrar vapor d‘água em outros planetas pequenos como a Terra e que essa descoberta seria o primeiro passo (de muitos!) para encontrar vida no universo”

No entanto, o pesquisador afirma que a descoberta futura de vapor d‘água em um planeta mais semelhante à Terra pode ser um indício mais forte da possibilidade de vida extraterrestre. “Nosso estudo mostra que podemos encontrar vapor d‘água em outros planetas pequenos como a Terra e que essa descoberta seria o primeiro passo (de muitos!) para encontrar vida no universo”, conjectura Fraine.

Os cientistas querem aperfeiçoar o método para analisar a composição da atmosfera de outros exoplanetas e verificar se eles também têm água. “A tecnologia pode ser aprimorada, tornando o processo mais rápido, estável e preciso”, diz o pesquisador. “Há um grande número de exoplanetas por aí em que podemos usar essa mesma técnica. O próximo passo é estudar uma coleção maior de pequenos exoplanetas, uns 20 ou 30, e ver o que descobrimos.”

Lucas Lucariny
Ciência Hoje On-line

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