Chineses descobrem o avô do T. rex

Concepção artística do Guanlong wucaii . A enorme crista no crânio do réptil é o que mais surpreendeu os cientistas que descobriram seus fósseis (arte: Zhongda Zhang/IVPP).

Achados na baía de Junggar, no noroeste da China, fósseis de dois esqueletos do mais antigo antepassado do Tyrannosaurus rex , o maior e mais conhecido predador entre os dinossauros. O réptil encontrado viveu no final do período Jurássico, há aproximadamente 150 milhões de anos, 90 milhões de anos antes do surgimento do T. rex , já no Cretáceo.

 
Os fósseis foram encontrados pela equipe de Xu Xing, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleontologia de Pequim. A descoberta foi relatada e analisada em artigo da Nature de 9 de fevereiro. A nova espécie foi batizada Guanlong wucaii , que quer dizer ‘dragão de crista das pedras de cinco cores’ em chinês.
 
O Guanlong não chegava nem perto do porte e da força de seu ilustre descendente: ele tinha ‘apenas’ três metros de comprimento, enquanto o T. rex podia medir até 13 metros. Especialistas acreditam que, em seu ecossistema, o Guanlong era apenas um predador secundário – o primário seria o carnossauro primitivo Monolophosaurus .
 
A análise dos fósseis revelou que o novo dinossauro compartilha muitas características com dinossauros mais primitivos e tiranossauros, que viveram alguns milhões de anos depois. Entre as semelhanças com animais mais primitivos, destacam-se estruturas como dentes em forma de lâmina, localizados ao lado das mandíbulas, e uma poderosa mão com três dedos. Já com o grupo dos tiranossauros, o Guanlong compartilha traços como pré-maxilares em forma de ‘U’ e ossos nasais fundidos em uma única peça.

O que mais chamou a atenção dos autores do estudo, porém, foi a enorme crista no crânio do novo réptil, nunca antes observada no grupo dos tiranossauros. Segundo eles, o ornamento está entre os mais bem elaborados já encontrados entre dinossauros não-voadores. Essa estrutura protuberante pode ter funcionado como um ornamento sexual, tal como a cauda do pavão ou o chifre do alce. O fato de o menor dos exemplares encontrados ter uma crista proporcionalmente muito menor do que a do outro fortalece a hipótese de que essa estrutura estaria ligada com a maturidade sexual. Além disso, como a crista era constituída de um material frágil, está quase descartada a hipótese de que ela era utilizada como arma.

 

“A crista do novo dinossauro é um dos aspectos mais importantes dessa descoberta”, avalia o paleontólogo Alexander Kellner, pesquisador do Museu Nacional e colunista da CH On-line . “Cristas são comuns em algumas espécies de pterossauros e de dinossauros herbívoros. O estudo mostra que essas estruturas evoluíram de forma independente em diferentes grupos de animais, inclusive dinossauros carnívoros.”

Um outro aspecto importante do trabalho, na avaliação de Kellner, é o fato de se tratar de fósseis do Jurássico. “Há relativamente poucos fósseis de dinossauros e pterossauros desse período, se compararmos com o Cretáceo”, diz. “Além disso, a descoberta é mais um reflexo dos investimentos em paleontologia feitos na China. O estudo mostra que a região de Liaoning não é a única rica em fósseis naquele país.”

 

Júlio Molica
Ciência Hoje On-line
08/02/2006