Ciência nas ondas da rede

Em dezembro, como acontece todos os anos, o New Oxford American Dictionary elegeu a palavra do ano. Em 2005, a bola da vez foi podcast . O termo, com significado ainda pouco conhecido no Brasil, se refere a sites que oferecem gratuitamente arquivos de áudio que podem ser baixados e transferidos para aparelhos tocadores de mp3. Dessa forma, é possível ouvir notícias atualizadas sem estar necessariamente ligado ao computador.

A cada dia, surgem novos podcasts , sobre os mais variados assuntos: música, jogos, celebridades, esportes – e até ciência. Quem entender inglês não vai ter dificuldade para encontrar arquivos de áudio que apresentam e analisam as últimas novidades da pesquisa internacional. As duas maiores bíblias da ciência mundial – Nature e Science – já têm seus podcasts ; instituições como a Nasa e a Universidade de Harvard também.

Logotipo do podcast da Nature (clique na imagem para visitá-lo).

Atualizado semanalmente, o podcast da britânica Nature tem formato muito semelhante ao de um programa de rádio. Um locutor apresenta resumos das principais notícias da semana que foram destaque na revista. Geralmente, um especialista é entrevistado e comenta os principais assuntos. Os arquivos têm o tamanho aproximado de 9 MB.

Já o podcast da Science é mais descontraído. Ele conta com dois apresentadores que também comentam os assuntos principais da semana no meio científico, sem a sisudez da Nature . Além da informação, há espaço para piadas e músicas. Exibidos também em uma rádio local, nos Estados Unidos, os programas têm cerca de uma hora de duração e, por isso, os arquivos são mais pesados (com até 30 MB). O site oferece acesso aos programas postos no ar desde janeiro de 2000.

Outra revista que disponibiliza arquivos de áudio em seu site é a inglesa New Scientist . Além do noticiário, os programas semanais contam com um quiz relacionado a assuntos científicos da semana em questão. Mas os podcasts de ciência não se resumem às revistas. A Nasa também disponibiliza em seu site diversos arquivos de áudio separados por áreas de conhecimento – todos em versões em inglês e espanhol.

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Se no exterior esse fenômeno é bastante difundido, no Brasil ele ainda está engatinhando. Praticamente todas as produções são independentes e não possuem patrocinadores. Para tentar mudar essa situação foi realizada no início de dezembro em Curitiba (PR) a PodCon Brasil, a primeira conferência nacional sobre  podcasting . Além de discutir a linguagem e a tecnologia dessa inovação, o evento promoveu a criação da primeira associação de podcasters do país.
 
Ricardo Macari, palestrante da PodCon e produtor do podcast Território Livre, estima que em 2006 o podcasting deixe de ser novidade. Para ele, os lançamentos da Apple , iPod nano e iPod Video , podem aquecer o mercado. Porém, o podcaster não vê com maus olhos a falta de produções comerciais no país. “Justamente por esse atraso das empresas em utilizar o podcast como ferramenta de mídia, temos no Brasil um espaço aberto que permite a exploração de novas linguagens”, explica.
 
Podcast.com.br/ciência

Página inicial do podcast brasileiro Minuto Ciência , criado por iniciativa da PUCCamp (clique na imagem para visitá-lo).

No site podcast.net, há 617 sites estrangeiros cadastrados que contêm arquivos de áudio na categoria “Ciência e natureza”. Porém, a situação brasileira é um pouco diferente. Se os podcasts sobre generalidades já não são muitos, os relacionados à ciência podem ser contados nos dedos. Segundo Macari, em apenas dois dedos.

 
O Minuto Ciência , da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCamp), apresenta depoimentos de aproximadamente um minuto em que pesquisadores de diversas áreas explicam seus estudos e teorias. No entanto, alguns textos são muito técnicos e de difícil compreensão para leigos.
 
Para um público mais abrangente, o professor de física Sérgio Lima, do colégio carioca Pedro II, criou um podcast onde comenta notícias sobre tecnologia, educação e, obviamente, física. “Inicialmente, o objetivo era simplesmente testar uma linguagem”, diz o professor, que também tem dois blogs e um fotolog . “Porém, espero em 2006 utilizá-lo como uma ferramenta educacional, na qual os próprios alunos poderão expor e comentar suas pesquisas escolares.”

Júlio Molica
Ciência Hoje On-line
16/01/2006