Cobertura generalista e superficial

Quando trata do tema direitos humanos, a imprensa escrita brasileira peca pela generalidade e pela superficialidade da abordagem. O diagnóstico é de um estudo realizado pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e apresentado no 32º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), realizado na semana passada em Caxambu (MG).

Coordenada pelo cientista político Guilherme Canela, pesquisador da Andi, a pesquisa analisou 1.315 matérias jornalísticas de diferentes gêneros (editoriais, colunas, artigos, reportagens etc.), publicadas em 2004 em 57 jornais de vários estados brasileiros. Foram selecionados para análise no estudo todos os textos que contivessem o termo “direitos humanos” ou expressões congêneres.

Os resultados são decepcionantes: embora a maioria dos textos apresentasse a expressão “direitos”, de maneira geral (80% da amostra total), ou “direitos humanos”, de maneira um pouco mais específica (50,8%), apenas 0,5% deles apresentava um conceito explícito do que se entende por direitos humanos.

Segundo Guilherme Canela, 62% dos textos que apresentavam a expressão “direitos humanos” discorreram sobre o tema de “maneira genérica”, sem abordar direitos específicos como saúde, educação, lazer ou outros. Além disso, ressaltou ele, 80% desses textos não avançaram no sentido de buscar contextualizar ou aprofundar a discussão sobre direitos humanos.

“Os textos se limitaram, em geral, a associar a expressão ‘direitos humanos’ à existência ou às demandas de movimentos de promoção e defesa dos direitos humanos e de órgãos governamentais ou à ocorrência de eventos”, resume Canela.

Ainda segundo os resultados da pesquisa, quando o assunto são os direitos humanos, predominam na imprensa escrita os textos opinativos (20,2%), aqueles que tratam de demandas e ações dos governos (18,1%) e que divulgam ou repercutem eventos (8,4%). Textos com denúncias (2,7%) e matérias investigativas (2,6%) são os gêneros menos freqüentes.

Mais informações sobre essa pesquisa podem ser encontradas no livro Mídia e direitos humanos, lançado em 2006, pela ANDI/SEDH/UNESCO. Também vale à pena acessar o portal da Andi para conhecer os resultados de outras pesquisas e ações da entidade. 

Vera Rita da Costa
Especial para a CH On-line
03/11/2008