Colisões inconclusivas

Físicos do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) anunciaram hoje (13/12) avanços na busca pelo bóson de Higgs, apelidado de ‘partícula de Deus’. A principal conclusão, apresentada em conferência em Genebra, na Suíça – filmada e divulgada em tempo real para todo o mundo –, foi de que, se ele existir, é provável que esteja situado em uma faixa de baixa massa e energia. O resultado, no entanto, ainda não é suficiente para confirmar ou descartar a existência do bóson.

O bóson de Higgs foi postulado pelo físico inglês Peter Higgs na década de 1960 para fechar o modelo padrão da física de partículas. Ele seria uma manifestação do também hipotético campo de Higgs, presente em todo o universo e responsável pela massa dos átomos e de toda matéria visível. Mas é a única partícula do modelo que nunca foi observada experimentalmente.

Desde que a teoria de Higgs foi criada, pesquisadores do Cern procuram pelo bóson e sua massa. Com o início das atividades do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), em 2005, a busca se tornou mais refinada. 

Pela combinação dos resultados obtidos em dois experimentos de colisão de prótons feitos no acelerador, o Atlas e o CMS, os físicos foram capazes de excluir de sua busca as faixas mais energéticas e de maior massa e afirmar que o bóson de Higgs deve estar situado entre 116 e 130 gigaeletronvolts (GeV), mais provavelmente em 125 GeV.

Fabiola Gianotti
A física Fabiola Gianotti, representante do Atlas, fala para a plateia de físicos do Cern. (foto: VMO Team)

Nessa faixa, os físicos observaram sinais do que poderia ser o bóson de Higgs. “Vimos uma série de eventos compatíveis com a teoria de Higgs, mas ainda não temos dados suficientes para afirmar uma descoberta”, disse o físico Guido Tonelli, porta-voz do CMS durante a conferência do Cern.

Segundo a física italiana Fabiola Gianotti, representante do Atlas, a atividade observada poderia tanto ser evidência do bóson quanto resultado de fatores externos, como flutuações de fundo no acelerador de partículas. 

“Não podemos concluir nada nesse estágio; precisamos de mais dados, mas podemos ficar orgulhosos desses lindos resultados que conseguimos até agora”, disse. E adiantou: “Dada a maravilhosa atuação do LHC este ano, não teremos que esperar muito para ter essas informações e resolver esse quebra-cabeça.”

Seja o que Higgs quiser

Nos próximos meses, tanto a equipe do Atlas quanto do CSM vão refinar suas análises na tentativa de apresentar novos resultados na próxima conferência de física de partículas do Cern, em março do ano que vem. Os dois físicos acreditam que até o final de 2012 já terão coletado dados suficientes para resolver o mistério da existência (ou não) do bóson de Higgs. 

Se o bóson de Higgs for encontrado, a física de partículas moderna continua inalterada. Mas se sua existência for descartada, significa que tudo o que se acreditava até então está errado e que ela terá que ser reformulada.

Santoro: “Se o bóson de Higgs não existir, vai ser ainda mais instigante”

“A teoria de Higgs é a mais consistente que temos hoje para explicar a massa das partículas; se ela ficar provada, o que me parece que vai ocorrer, bateremos palmas e ficaremos felizes por termos uma solução”, diz o físico Alberto Santoro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), envolvido em experimentos do CMS. “Já se o bóson de Higgs não existir, vai ser ainda mais instigante. Teremos que procurar outros mecanismos que expliquem a massa das partículas.”

O jeito é aguardar até o ano que vem para ver qual curso seguirá a física.


Sofia Moutinho

Ciência Hoje On-line