
A imagem retrata um dos primeiros vertebrados a conquistar a terra firme. (Arte: Maurílio Oliveira. Clique na imagem para ampliar.)
O ator principal desta trama é o Ichthyostega , tido como o primeiro vertebrado a viver em terra firme. Esse animal foi estudado e reestudado por mais de cinco décadas. Quando se pensava que se sabia tudo sobre ele, um estudo publicado recentemente na Nature revela novidades sobre a maneira como ele e os primeiros vertebrados terrestres viviam e se locomoviam.

A imagem mostra a comparação de duas reconstruções do Ichthyostega . No alto, a nova, com base nas descobertas recentes; embaixo, a antiga. Entre as principais diferenças está a coluna vertebral, não tão homogênea como se supunha, e o redirecionamento dos membros posteriores. (Reprodução: Ahlber et al. / Nature )
A terceira – e principal – descoberta é o fato de que a coluna vertebral não era homogênea como se supunha, mas já se encontrava regionalizada. Havia claramente cinco regiões: cervical, torácica, lombar, sacral e caudal. As diferenças são observadas no tamanho do arco neural das vértebras e no seu direcionamento (que pode ser anterior, vertical ou posterior). Antigamente, supunha-se que havia uma mudança gradual do pescoço para a cauda e nenhuma diferença entre as distintas partes da coluna vertebral tinha sido detectada.

O Acanthostega era uma forma aparentada com o Ichthyostega que ocupava provavelmente um nicho distinto. Enquanto o Ichthyostega estaria mais adaptado a se locomover em terra firme, o Acanthostega deve ter sido um animal nadador, que se valia principalmente da cauda para propulsão. (Reprodução: Ahlber et al. / Nature )
Os dois animais eram aquáticos, mas possivelmente o Ichthyostega ficava mais tempo em terra firme. Também foi feita uma comparação com outros animais de quatro patas mais evoluídos que os dois: as análises levaram à conclusão de que o Ichthyostega ocupa uma posição de destaque dentro da evolução dos tetrápodes, mas representa possivelmente uma linhagem extinta que não logrou sucesso total na conquista da terra firme.
Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
04/11/05
Paleocurtas
As últimas do mundo da paleontologia
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Pesquisadores dos Estados Unidos acabam de descrever uma nova espécie de Placodermi – grupo que reúne peixes primitivos caracterizados por uma extensa armadura óssea. A nova espécie pertence ao gênero Diplognathus e foi chamada D. lafargei . O animal foi encontrado em uma mina da cidade de Alpena (Michigan, EUA), onde afloram rochas do Devoniano Superior (há cerca de 360 milhões de anos). Peixes devonianos dessa região são pobremente documentados, o que aumenta o interesse pela descoberta. O trabalho acaba de ser publicado na Revista Brasileira de Paleontologia em um volume especial com trabalhos apresentados durante um simpósio internacional realizado em 2004 em Gramado.
Plesiossauros formam um grupo de répteis marinhos que viviam nos mares durante o Mesozóico. Alguns deles possuíam o pescoço muito comprido, levando os pesquisadores a acreditar que eles devem ter sido predadores ágeis que se alimentavam predominantemente de peixes. Dois novos achados realizados na Austrália contradizem essa hipótese. Os exemplares, procedentes de depósitos do Cretáceo Inferior na região de Queensland, continham parte da última ceia dos animais. E, para a surpresa geral, ela era formada sobretudo por conchas de gastrópodes e bivalves que viviam no fundo do mar. O estudo, publicado em outubro na Science , sugere que pelo menos alguns plesiossauros utilizavam seu longo pescoço para procurar seu alimento no fundo do mar e não viviam nadando atrás de peixes.
Um encontro reunindo pesquisadores que trabalham com vertebrados do Cretáceo nos Estados Unidos esta sendo organizado pelo Museu de História Natural e Ciência do Novo México, em Albuquerque (EUA). O simpósio será realizado entre 22 e 24 de maio de 2006. Mais informações podem ser obtidas com Robert Sullivan ( rsullivan@state.pa.us ).
Acaba de ser publicada na Nature a descoberta do mais antigo dromeossaurídeo (dinossauros proximamente relacionados às aves) da América do Sul. Chamado de Buitreraptor gonzalezorum , o novo dinossauro carnívoro foi encontrado na Formação Candeleros (com rochas de 95-90 milhões de anos) da província de Río Negro, noroeste da Patagônia. O animal se diferencia dos demais dinossauros terópodes por ter dentes pequenos desprovidos de serrilhas e um crânio bastante longo. Este novo achado corrobora a hipótese segundo a qual as faunas de dinossauros dos supercontinentes Laurásia (no norte) e Gondwana (no sul) se desenvolveram de forma independente durante o Cretáceo.
Recentemente o Museu Americano de História Natural de Nova York inaugurou a exposição Dinossauros: antigos fósseis, novas descobertas . A mostra revela como a tecnologia tem ajudado os paleontólogos a entender melhor os fósseis, alguns deles conhecidos há muito tempo. Um exemplo são as novas teorias sobre a locomoção do T. rex com base em modelos desenvolvidos com ajuda de computadores e as funções de cristas em dinossauros com ajuda da tomografia. A exposição tem ainda uma espetacular reconstrução do que era a região de Liaoning (China) há 125 milhões de anos. A mostra será levada ainda para outras cidades nos EUA.
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