Todos sabem que os dinossauros dominaram o nosso planeta por milhões de anos. Um dos grupos que mais se destacaram foi o dos saurópodes (animais com cabeça pequena, corpo volumoso e cauda e pescoço compridos), que podem ser exemplificados pelo Maxakalisaurus, em exposição no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Algumas formas eram gigantescas, como o Argentinosaurus e o Futalognkosaurus, ambos da província de Neuquén, na Argentina, e cujo comprimento ultrapassava 30 metros.
O surgimento desses répteis colossais ainda está envolto em mistério. Mas uma descoberta realizada no Brasil aumenta o conhecimento sobre as primeiras espécies que acabaram por dar origem a esses gigantes. O estudo, liderado por Sergio Cabreira, da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, Rio Grande do Sul, acaba de ser publicado na Naturwissenschaften, uma prestigiosa revista científica da Alemanha.
Pampadromaeus barberenai é o nome da nova espécie. Pampadromaeus, em tradução livre, significa ‘o corredor dos pampas’, uma alusão à região onde o animal foi encontrado; barberenai é uma justa homenagem a um dos principais pesquisadores de vertebrados fósseis atuantes no Rio Grande do Sul, Dr. Mário Barberena.
O esqueleto foi encontrado espalhado por uma área menor que um metro quadrado, nas proximidades da cidade de Agudo, no Rio Grande do Sul.
A rocha, de coloração avermelhada, é bem fina e possivelmente foi depositada entre 230 e 228 milhões de anos atrás por algum rio que existia na região naquela época.
Pequeno e ágil
O Pampadromaeus – do qual se recuperou grande parte do esqueleto – não era um animal muito perigoso. Tinha um tamanho estimado em menos de 2 metros – que pode ser considerado pequeno, comparado ao dos saurópodes, que estão na mesma linha evolutiva da nova espécie. Pela sua dentição, composta de dentes em formato de folha, esse dinossauro deveria se alimentar de plantas.
O seu esqueleto, ao contrário do observado em grandes herbívoros que surgiram bem depois, era comparativamente esbelto, com ossos leves, o que sugere que esse animal pode ter sido bastante ágil e um bom corredor (daí o seu nome).
A cabeça, raramente preservada em dinossauros antigos, tem aberturas muito amplas e seus ossos também são bastante delgados. A parte mais anterior do focinho é projetada para baixo, algo nem sempre visto nos dinossauros.
Os membros posteriores (as pernas) são bem mais desenvolvidos do que os anteriores (os braços), o que levou os pesquisadores a concluírem que Pampadromaeus era bípede, ao contrário dos grandes saurópodes, que caminhavam sobre as quatro patas.
O mundo durante o Triássico
O nosso planeta era muito diferente há cerca de 230 milhões de anos atrás, quando o Pampadromeus barberenai viveu nas terras que hoje chamamos de Rio Grande do Sul. Os continentes estavam todos reunidos em uma massa continental única chamada de Pangeia. Só esse fato faz uma enorme diferença, pois permitia que esse e outros dinossauros se locomovessem por toda a terra firme do planeta, hoje cortada e separada por diversos oceanos.
Além disso, os ecossistemas daquela época eram dominados pelos cinodontes primitivos, que milhões de anos depois deram origem aos mamíferos. Os maiores predadores do período eram formas como o Prestosuchus, que está na linha evolutiva dos crocodilomorfos. Resumindo, os dinossauros – como o Pampadromaeus – eram minoria e certamente caçados por outros répteis…
Um dos aspectos mais importantes do trabalho de Cabreira e colegas está no fato de que o achado confirma o enorme potencial das rochas do Rio Grande do Sul para solucionar uma das principais curiosidades dos amantes da paleontologia: a origem dos dinossauros, particularmente os de grande porte. Com mais trabalho de campo e novos achados, os pesquisadores brasileiros certamente estarão contribuindo para a solução desse enigma.
Veja um vídeo com imagens da réplica do Pampadromaeus barberenai em vida
Alexander Kellner
Museu Nacional/UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
Paleocurtas
As últimas do mundo da paleontologia
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Eberhard Frey (Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe,Alemanha) e colegas acabam de descrever um novo pterossauro do famosodepósito de Solnhofen, situado na Baviera, Alemanha. A espécie,denominada Aurorazhdarcho primordius, é tida como proximamenterelacionada ao grupo Azhdarchidae, que reúne os maiores répteisvoadores já encontrados. O trabalho foi publicado na Swiss Journal ofGeosciences.
Um dos mais importantes paleontólogos italianos, Dr. Fabio DallaVecchia, proferiu palestra sobre novas descobertas na região de Friuli,nordeste da Itália, durante a Paleominas, evento organizado pelo GrupoFossilis. Essa região apresenta depósitos de diversas idades, quecontêm uma variada fauna de répteis e peixes, incluindo um dosdinossauros mais completos encontrados na Europa.
Um estudo que acaba de ser publicado na Nature demonstrou que um invertebrado predador de 515 milhões de anos tinha uma visão excepcional. Fósseis do artrópode Anomalocaris encontrados na Austrália foram estudados pela equipe de John Paterson (Universidade da Nova Inglaterra, Austrália) e revelaram a presença de 16 mil (!) facetas na região onde estaria preservado olho, o que sugere que a visão dessa forma extinta era pelo menos tão boa como a dos artrópodes mais desenvolvidos dos dias de hoje.
A descrição de uma nova espécie de bagre fóssil da Argentina foi publicada nos Papeis Avulsos de Zoologia. Com base em dois crânios, Sergio Bogan (Universidade Maimónides) e Frederico Agnolin (Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia), ambos de Buenos Aires, descreveram Gnidens ancestralis, encontrado em rochas depositadas durante o Mioceno. A nova espécie é proximamente relacionada com formas modernas.
Para as pessoas interessadas na Antártica, um rápido lembrete: no dia 14 de dezembro próximo fará exatamente 100 anos que o explorador norueguês Roald Amundsen e sua equipe conseguiram o feito de atingir pela primeira vez o Polo Sul. Essa proeza foi conquistada um pouco mais de um mês antes da expedição liderada pelo famoso oficial da marinha inglesa Robert Falcon Scott, que faleceu ao regressar.
Os responsáveis pelo depósito The Mammoth Site of Hot Springs, em Dakota do Sul (Estados Unidos), estão oferecendo estágios para alunos interessados em trabalhar com paleontologia durante as próximas férias. O depósito em questão reúne centenas de ossos de vertebrados do Pleistoceno, particularmente de mamutes. As inscrições podem ser feitas até o início de fevereiro. Bem que poderíamos ter iniciativas semelhantes no nosso país…