Encontro marcado no Rio de Janeiro

Como vimos na   última coluna  , toda grande descoberta geralmente se inicia com árduos dias de campo e uma longa espera até que o novo fóssil encontrado esteja totalmente preparado – ou seja, livre da rocha no qual se preservou, revelando todos seus detalhes. Apenas depois disso o pesquisador tem a oportunidade de estudar o exemplar e determinar a sua importância científica. Uma vez concluída a pesquisa, falta uma última etapa: comunicar os resultados aos colegas de profissão para que eles se inteirem dessa pesquisa e incorporem os novos dados em seus próprios estudos. É assim que a ciência avança.

A comunicação dos resultados para outros pesquisadores é feita em artigos publicados nas revistas especializadas, nas quais a descoberta fica sacramentada. Mas é bastante comum que os pesquisadores, antes da publicação final, discutam seus resultados preliminares em reuniões científicas – os congressos e simpósios. A vantagem desse procedimento é poder colher opiniões de colegas que, por vezes, podem ter uma importante influência no desenvolvimento de um projeto.

 

Cartaz do II Congresso Latino-Americano
de Paleontologia de Vertebrados
(clique na imagem para ampliar)

Nos últimos anos houve um aumento expressivo de descobertas ligadas à paleontologia na América Latina, particularmente de vertebrados fósseis. Um reflexo disso é a organização de uma reunião científica onde os estudiosos de fósseis latino-americanos pudessem trocar informações. O primeiro Congresso Latino-Americano de Paleontologia de Vertebrados aconteceu em Santiago, no Chile, em 2002. A segunda edição – o II CLPV – acontecerá na semana que vem, mais especificamente de 10 a 12 de agosto, no Rio de Janeiro.

 
A organização do congresso está a cargo do Museu Nacional, o mais antigo centro de pesquisa da América Latina. O local escolhido para a realização do evento é o Rio Othon Palace Hotel, localizado na Avenida Atlântica, em frente à praia de Copacabana. O II CLPV é sem dúvida o maior evento já realizado no país sobre vertebrados fósseis e reúne alguns dos principais paleontólogos da atualidade. O evento conta com o apoio das principais sociedades científicas ligadas à pesquisa dos fósseis, é patrocinado pela Petrobras e apoiado pela Faperj e CNPq.
 
O II CLPV congresso conta com três simpósios. O primeiro deles tem como tema central a evolução de um grupo de répteis chamados de lepidossauros, que inclui lagartos e cobras, entre outros. Um segundo simpósio discutirá um assunto bem importante nos dias de hoje: a origem dos dinossauros. Esse tema é especialmente significativo para a América do Sul, pois é de nosso continente que provêm alguns dos dinossauros mais antigos e primitivos já encontrados. O terceiro simpósio abordará a evolução e distribuição dos mamíferos do supercontinente chamado Gondwana, que reunia no passado América do Sul, África, Oceania, Índia e Antártida. Em cada um serão apresentados oralmente de 9 a 14 trabalhos.
 
O congresso terá ainda três workshops, de caráter mais informal. O primeiro tem como objetivo discutir o turismo em áreas onde existem depósitos fossilíferos – tema muito importante e atual no mundo, mas que tem sido pouco abordado na América Latina. Outro workshop reunirá os principais pesquisadores que estudam os morcegos fósseis, que devem anunciar novas e importantes descobertas. O último – visto com especial carinho pela comissão organizadora do congresso – reunirá estudantes interessados na pesquisa de vertebrados fósseis para discutir diversos aspectos ligados ao desenvolvimento de uma carreira na paleontologia, tais como obtenção de fundos para pesquisa e possibilidades para a realização de trabalhos de campo. Estudantes estrangeiros apresentarão um panorama da situação e as oportunidades disponíveis para aqueles que estão iniciando a sua carreira em países como os Estados Unidos, onde a paleontologia de vertebrados está particularmente bem desenvolvida.
 
Além disso, o evento terá ainda as sessões regulares, nas quais serão apresentados resultados de diversas pesquisas em andamento, incluindo novas espécies mamíferos, crocodilomorfos e dinossauros. Debates relacionados à origem das aves, com diversas correntes apresentando seus últimos resultados, prometem ser um dos principais destaques deste congresso. No total, serão mais de 200 comunicações, nas quais serão apresentadas algumas das principais novidades da paleontologia de vertebrados.
 
Preocupada com a disseminação do conhecimento científico, a comissão organizadora do IICLPV organizou uma exposição de paleoarte, com esculturas e ilustrações de diversos artistas nacionais e internacionais. São eles que dão “vida” aos ossos encontrados pelos pesquisadores e conseguem transmitir ao público uma noção da aparência de diversos animais extintos. Grande parte desta exposição ficará a disposição do público a partir de sábado, dia 13 de agosto, no Museu Nacional.
 

Mais informações sobre o evento, incluindo o programa completo, poderá ser obtido no site do congresso. 

Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
05/08/05

Paleocurtas

As últimas do mundo da paleontologia
(clique nos links sublinhados para mais detalhes)

 As Paleocurtas deste mês são todas dedicadas a novidades que serão apresentadas no II CLPV

Os primeiros restos de aves fósseis do Mesozóico do Brasil foramencontrados por pesquisadores do Museu de História Natural de Taubaté edo Museu de Paleontologia de Marília (ambos no estado de São Paulo). Omaterial é procedente de camadas do Grupo Bauru, também em São Paulo.Até então o registro de aves mesozóicas se limitava a penas encontradasna Chapada do Araripe, Nordeste do Brasil.

Os primeiros fósseis de dinossauros ornitísquios encontrados no Brasilestão sendo estudados por paleontólogos do Rio Grande do Sul e de SãoPaulo. Esse grupo de dinossauros, composto de formas herbívoras, émuito diversificado nos continentes ao norte da linha do Equador. Osfósseis foram encontrados em rochas triássicas do Rio Grande do Sul esão as primeiras evidências desse grupo em nosso país.

O robô de um pterossauro brasileiro encontrado na Bacia do Araripe éuma das principais atrações do II CLPV. Desenvolvido por profissionaisda Universidade Nacional de Córdoba (Argentina), o robô reproduz, emescala, o Tapejara imperator .

Uma nova espécie de ornitópodo gigante foi encontrada na FormaçãoPortezuelo, na região de Neuquén, Argentina. O material consiste em umesqueleto parcial de um animal com cerca de 6 metros de comprimento. O estudoestá sendo feito por pesquisadores do Centro Paleontológico Lago Barreales(Neuquén) e do Museu Argentino de Ciências Naturais de Buenos Aires.

Paleontógos brasileiros e argentinos discutirão novos dados relativos àslocalidades com ovos fósseis da província de Rio Negro, na Argentina.

Pesquisadores argentinos e brasileiros apresentarão novos resultados sobre a posição do grupo chamado de Pyrotheria – um grupo de ungulados extintos encontrados em diversos depósitos da América do Sul.

Cientistas alemães e brasileiros apresentarão novidades sobre a origem dascobras. Eles farão ainda  um apanhado das teorias existentes,discutindo os prós e contras de cada uma.