Os Tyrannosaurus rex , “estrelas” do filme Jurassic Park , eram répteis carnívoros que podiam passar de 14 metros de comprimento. (Arte: Maurílio Oliveira / Museu Nacional. Clique na imagem para ampliá-la)

As fotos mostram os tecidos moles de T. rex observados após a desmineralização dos fósseis. As imagens A, B e C mostram diferentes padrões dos vasos sangüíneos e estruturas orgânicas identificadas. O ponto escuro na foto C poderia representar uma célula preservada, como indica a comparação com vasos sangüíneos de avestruz (D), observados após a desmineralização de seus ossos. (fotos: Science )
Aí surgiu uma idéia: em esqueletos recentes, quando se quer analisar a matéria orgânica, existe uma técnica que consiste em retirar a parte mineralizada dos ossos. O que sobra são as partes moles, que podem então ser estudadas. O que aconteceria com o material do T. rex se essa técnica fosse utilizada?
A resposta surpreendeu a todos. Mary e seus colegas descobriram diversas estruturas orgânicas, entre as quais alguns vasos sangüíneos, que mantêm uma elasticidade, são ocos e possuem em seu interior estruturas que se assemelham a células. O trabalho não define a natureza das mesmas, mas traz uma comparação com material de avestruz, cujo conteúdo é formado por células sangüíneas vermelhas. A pesquisa recebeu destaque na edição de 24 de março da revista Science , uma das principais publicações científicas da atualidade.

Os tecidos moles de T. rex chamam a atenção por ter preservado sua flexibilidade: a região indicada pela seta na foto da esquerda, quando era pressionada, retornava à sua forma original. A foto da direita mostra o aspecto fibroso desses tecidos. (fotos: Science )
Além da descoberta propriamente dita, existe outro ponto dessa pesquisa que, pessoalmente, considero ainda mais interessante. Não existe, aparentemente, absolutamente nada de especial nas rochas onde o material de T. rexfoi preservado: um arenito (termo que os geólogos usam para se referir uma rocha com uma determinada granulometria) que se depositou em uma área onde há milhões de anos um rio desembocava no mar. Uma grande parte dos fósseis (não só de dinossauros) em diversos outros depósitos no mundo estão preservados nesse tipo de rocha, encontrada em antigos estuários.
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
01/04/05
Paleocurtas
As últimas do mundo da paleontologia
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Uma das atrações do IV Congresso Mundial de Centros de Ciência , a ser realizado de 11 a 17 de abril no Rio de Janeiro, será a exposição Expo Interativa – Ciência para Todos . Localizada no Riocentro, a exposição reunirá as principais empresas de produtos, serviços e tecnologias para museus, centros de ciência e similares. O Museu Nacional/UFRJ, em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia/MCT e o Departamento Nacional de Produção Mineral, participará com um estande onde serão exibidas desde tomografias feitas em múmias e fósseis até os bastidores de como se prepara e reconstrói um dinossauro. O espaço terá também uma caixa de areia que reproduz um afloramento, onde adultos e crianças poderão “escavar” e identificar réplicas de fósseis.
Pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul descobriram uma nova espécie de gimnosperma no Brasil: Sommerxylon spiralosus , do grupo Taxaceae. Foram encontrados vários exemplares de troncos fossilizados coletados em rochas com cerca de 220 milhões de anos na localidade Faxinal do Soturno, no Rio Grande do Sul, que contém alguns dos mais ricos depósitos de troncos fósseis do país. A descoberta, publicada pelos Anais da Academia Brasileira de Ciências , aumenta a diversidade de gimnospermas fósseis e representa a primeira ocorrência do grupo Taxaceae em rochas com essa idade.
Cientistas argentinos e brasileiros descobriram na Patagônia um novo dinossauro carnívoro – Unenlagia paynemili . Restos de indivíduos dessa espécie foram encontrados em rochas de aproximadamente 90 milhões de anos na localidade Futalognko, às margens do Lago Barrealeas, na província de Neuquén, Argentina. O animal alcançava aproximadamente 2 metros de comprimento e pertence ao grupo Maniraptora, do qual surgiram as aves. Mais informações em www.proyectodino.com.ar .
Nos dias 24 e 25 de setembro, será organizado o Dinosaur Park Symposium, no Royal Tyrrell Museum , em Drumheller (Alberta, Canadá). O evento tem como objetivo discutir o futuro desse parque paleontológico, que possui uma das maiores concentrações de ossos de dinossauros no mundo. Nessa ocasião, será lançado o livro Dinosaur Provincial Park: A Spectacular Ancient Ecosystem , elaborado para as comemorações dos 50 anos de fundação do parque.
Após examinar dados sobre a primeira e última ocorrência de 17.797 gêneros de animais marinhos que viveram nos últimos 542 milhões de anos, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) identificaram que, a cada 62 +/- 3 milhões de anos, há uma crise na fauna marinha, caracterizada pela extinção, com redução da diversidade, seguida da recuperação gradual, com o surgimento de novas formas de vida. Não foi encontrada uma explicação para esse ciclo – que não é obra do acaso, segundo dados estatísticos apresentados pelo estudo, publicado na Nature em 10 de março. Se os autores estiverem corretos, fica a pergunta: como a última grande crise foi há cerca de 65 milhões de anos, quando se extinguiram os grandes dinossauros e uma fração expressiva da fauna marinha, estaríamos nos dias de hoje no início de um novo período de extinção ou saindo dele? Em correspondência ao colunista, Richard Muller, um dos autores do estudo, disse que estamos chegando ao pico de diversidade, efeito de vários fatores, para que se inicie um declínio em breve – talvez dentro de mais poucos milhões de anos.
A identificação dos dígitos das mãos das aves é um dos pontos mais polêmicos na discussão de sua origem. Todos concordam que os animais que deram origem às aves tinham cinco dedos nas mãos e que perderam dois com o tempo. O problema está na identificação dos dígitos que sobraram: enquanto os estudos experimentais embriológicos aceitos até agora diziam que os três dedos das aves seriam o segundo, o terceiro e o quarto, as evidências nos fósseis indicavam que os dígitos deveriam ser o primeiro, o segundo e o terceiro. A controvérsia era um dos principais argumentos dos pesquisadores que se opõem a considerar que as aves descendam de um grupo de dinossauros. No entanto, um estudo recém-publicado no Journal of Experimental Zoology mostra que os paleontólogos estavam com a razão: os dedos das aves recentes são o primeiro, o segundo e o terceiro. Com isso, as evidências que suportam a teoria da evolução das aves a partir dos dinossauros ganha cada vez mais peso.
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