O rei dos dinossauros

Quem não conhece ou nunca ouviu falar no Tyrannosaurus rex? Acho que praticamente ninguém – criança ou adulto. Os dinossauros são os animais extintos mais populares do mundo e não existe dúvida de que o maior destaque cabe ao T. rex.

Imortalizado por vários filmes – entre os quais o Jurassic Park, dirigido por Steven Spielberg (1993), é apenas um –, esse dinossauro desperta um sentimento comum na maioria das pessoas que se depara com ele em museus: ele é grande, tem cara de feroz e deve ter sido temido pelos outros que tiveram a “infelicidade” de ter vivido na mesma época. Uma verdadeira fera!

O Museu Nacional inaugura, a partir de 17 de dezembro, a exposição de uma réplica da cabeça de um T. rex

Atendendo à reivindicação de muitas pessoas que chegam ao Bairro Imperial de São Cristóvão, mais precisamente à Quinta da Boa Vista, para visitar o Museu Nacional, a instituição, por meio da Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN), inaugura, a partir de 17 de dezembro, a exposição de uma réplica da cabeça de um T. rex.

Aliás, essa réplica é a melhor que existe, já que foi feita a partir de um crânio completo. Por isso, além de maravilhar o visitante, ela servirá como modelo para pesquisadores brasileiros de todos os cantos do país que se dedicam ao estudo dos dinossauros.

Principais descobertas

Há registros bem antigos, do século 19, de dentes e ossos que aparentemente são atribuíveis ao T. rex. Mas os primeiros achados mais completos foram realizados por volta de 1900, no estado norte-americano de Wyoming. Barnum Brown (1873-1963), o lendário coletor de fósseis do American Museum of Natural History (AMNH) foi o autor dessa proeza.

Hoje em dia existem cerca de 50 exemplares atribuídos ao T. rex, todos encontrados nos Estados Unidos. Destes, menos de 10 contêm a maior parte da ossada – lembrando que, em paleontologia, apenas em casos excepcionais pode-se falar em esqueletos 100% completos (sempre falta algum ossinho…).

Esqueleto de Tyrannosaurus rex
Esqueleto de ‘Tyrannosaurus rex’ do American Museum of Natural History (foto: Alexander Kellner)

O mais completo dos T. rex já encontrados foi batizado de Sue e acaba de comemorar uma década de exposição. Ele tem pouco mais de 80% de seu esqueleto e está exposto no Field Museum of Natural History, em Chicago (Estados Unidos).

Bons exemplares (com cerca de 50% do esqueleto) são encontrados no AMNH. O Black Hills Institute (Estados Unidos) tem um com 68% da ossada. Foi com base neste último, batizado de Stan, que se elaborou a réplica do crânio exposta no Museu Nacional. Aliás, nós chamamos o nosso T.rex de Stênio. E a apresentação de sua exposição será feita por ninguém mais, ninguém menos que o ator global Stênio Garcia.

Fama antiga

O nome Tyrannosaurus rex foi introduzido em 1905 pelo importante – e influente – curador do AMNH Henry Fairfield Osborn (1857-1935). Não sem cometer um pequeno deslize, já que, no mesmo trabalho, ele denomina outro exemplar que também era um T. rex de Dynamosaurus imperiosus – erro reconhecido pelo próprio pesquisador no ano seguinte.

O maior tiranossauro de que se tem notícia tinha 13 metros do focinho à ponta da cauda

Desde a descoberta, esse dinossauro fascinou a todos pelo seu tamanho e ferocidade, traduzida pelo seu crânio – em especial os dentes, que atingiam mais de 15 centímetros de comprimento. Segundo estudos histológicos dos seus ossos, o T. rex (a exemplo de outros dinossauros) teria um crescimento rápido – semelhante ao das aves –, passando de filhote para o tamanho adulto em poucos anos.

O maior indivíduo de que se tem notícia tinha 13 metros do focinho à ponta da cauda e perdia apenas para o Spinosaurus (do Egito) e o Giganotosaurus (da Argentina) – cujos comprimentos poderiam passar dos 14 metros. Esses animais tinham quase o dobro do nosso Pycnonemosaurus nevesi, o maior dinossauro carnívoro do Brasil, que foi encontrado no Mato Grosso.

Vida difícil

Apesar de estar no topo da cadeia alimentar, o T. rex não tinha uma vida muito fácil. Como ocorre com muitos predadores de hoje em dia (crocodilos, por exemplo), a disputa por presas, fêmeas e território aparentemente foi muito acentuada entre esses dinossauros. O crânio do nosso Stênio, a exemplo de outros, exibe inúmeras perfurações (veja foto abaixo) que devem ter sido feitas por outros T. rex que teriam invadido o “seu espaço”.

Réplica do crânio de tiranossauro
Stênio, a réplica do crânio de tiranossauro exposta no Museu Nacional da UFRJ. Os pesquisadores acreditam que as inúmeras perfurações aparentes foram feitas por outros ‘T. rex’ em disputas por território. (foto: Alexander Kellner)

Mas não é só isso. Tendo vivido entre 65 e 67 milhões de anos atrás, o T. rex compartilhava o seu território com grandes herbívoros, como os hadrossauros e o Triceratops – animais duros de serem abatidos.

Falando nesse último, em um esqueleto de Triceratops foram encontradas perfurações que se assemelham às feitas por dentes de tiranossauros, o que levou alguns autores a sugerir que esses dinossauros se enfrentavam no passado. Antes mesmo desse achado, a cena do embate T. rex x Triceratops já havia sido imortalizada em 1927 por Charles Knight (1874-1953), um dos principais paleoartistas de todos os tempos.

Braço de Tyrannosaurus rex
O tamanho pequeno dos membros anteriores do ‘T. rex’ levanta dúvidas sobre seu desempenho como predador. (foto de exemplar do AMNH feita por Alexander Kellner)

Quanto à alimentação, ainda discute-se se o T. rex era um animal carniceiro ou um predador ativo. Para alguns, quando um animal desses caía durante a luta, teria uma enorme dificuldade de se levantar, já que seus membros anteriores eram pequenos demais (veja figura ao lado).

Apesar de esse raciocínio não estar errado – realmente chama a atenção ver um gigante desses com um braço tão pequeno –, a maioria dos pesquisadores acredita que o T. rex, com sua grande cabeça e pernas possantes, poderia derrubar presas de grande porte sem muito problema.

Seja como for, T. rex continua sendo o rei dos dinossauros para os ‘dinoaficionados’. Desde a sua descrição – e lá se vão 105 anos –, esse dinossauro, aqui representado pelo nosso Stênio, fascina todos que têm a possibilidade de ver a sua cabeça, mostrando como eram diferentes essas criaturas que há milhões de anos viviam no nosso planeta.

Alexander Kellner

Museu Nacional/UFRJ
Academia Brasileira de Ciências

 

Paleocurtas

As últimas do mundo da paleontologia
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Acaba de ser publicado nos Anais da Academia Brasileira de Ciências um estudo sobre a estrutura populacional de Stegomastodon waringi, um parente distante dos elefantes atuais e dos mamutes. Coordenado por Dimila Mothé (PPGZOO, Museu Nacional/UFRJ), a pesquisa de dezenas de indivíduos encontrados no famoso depósito de Águas do Araxá (Minas Gerais), formado durante o Pleistoceno, revelou a presença tanto de adultos (a maioria) como de indivíduos jovens, que devem ter sucumbido devido a um evento catastrófico.

Ainda sobre mamíferos fósseis do Pleistoceno, Édison Oliveira (Universidade Federal de Pernambuco) e colegas acabam de publicar no periódico N JB Geol Paläont Abh evidências da presença de Glyptotherium – um parente distante dos tatus – no nordeste do Brasil. Os autores puderam estabelecer que outros fósseis, originalmente classificados em diferentes gêneros, também representam Glyptotherium, que é relativamente comum na América do Norte, questionando, assim, o endemismo da megafauna brasileira defendida por alguns paleontólogos.

Entre 17 e 19 de novembro foi realizada a 1ª Conferência Latino-americana e Caribenha de Geoparques, em Barbalha, Ceará. Com mais de 200 pessoas, o objetivo principal do evento foi discutir como deve ser organizado e gerenciado esse tipo de parque, que possui um enorme potencial para divulgação científica. O encontro foi organizado pelo Geopark Araripe, pela Universidade Regional do Cariri e pela Secretaria de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Ceará.

Castor Cartelle (PUC, Belo Horizonte), um dos principais pesquisadores de mamíferos fósseis do Brasil, acaba de lançar o livro O homem do abismo. Muito bem ilustrada e com excelente projeto gráfico, a obra apresenta, de forma clara, os estranhos animais que há 10 mil anos habitaram vários continentes, especialmente este canto do mundo que chamamos de Brasil. Vale a pena! Mais informações com o Museu de Ciências Naturais da PUC-Minas.

Um novo exemplar de lagarto fóssil da Formação Adamantina (Grupo Bauru, 90 milhões de anos) foi noticiado por Carlos Candeiro (Universidade Federal de Tocantins) e colegas. Constituído por 10 vértebras, o diminuto espécime de apenas 14 milímetros foi descoberto por William Nava. Publicada no Bulletin of Geosciences, a pesquisa chama a atenção para o fato de que vertebrados de pequenas dimensões podem ser encontrados nos sedimentos da região de Marília (São Paulo).

Mark Witton (Universidade de Portsmouth, Inglaterra) e Michael Habib (Universidade Chatham, Pittsburgh, EUA) publicaram na PlosOne uma pesquisa sobre a capacidade de voo dos pterossauros de grande porte. O estudo questiona a aplicação de modelos baseados em aves recentes para a reconstrução da massa e tamanho dos répteis voadores. Os autores apresentam no trabalho novas estimativas de peso e envergadura alar para diversos pterossauros e concluem que todos eram bons voadores.