As noites de inverno costumam ser as mais interessantes para se observar o céu. Devido ao tempo seco e com poucas nuvens, em lugares afastados dos grandes centros urbanos é possível observar detalhes interessantes que normalmente passam despercebidos devido à poluição atmosférica e luminosa.
É possível contemplar, além da Lua e dos cinco planetas visíveis (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno), fenômenos astronômicos que ocorrem com alguma frequência e são previsíveis, dada a sua regularidade.
Neste mês de agosto de 2010, dois tipos de fenômenos astronômicos chamaram a atenção, inclusive da mídia. Um deles foi a conjunção da Lua com Mercúrio, Vênus, Marte e Saturno, que pôde ser melhor vista nos dias 13 e 14. A conjunção é um alinhamento de planetas que ocorre com certa periodicidade devido ao fato de os períodos de translação ao redor do Sol serem fixos.
O outro evento interessante foram as chuvas de meteoros de Delta Aquaridius, no dia 10 de agosto, e das Perseidas, que tiveram sua atividade máxima no dia 12. Esses nomes vêm das constelações de Aquarius e de Perseus, que ocupam a região do céu da qual parecem sair os meteoros observados durante esses fenômenos.
A chuva de meteoros mais intensa foi a das Perseidas. Pouco desse fenômeno pôde ser visto nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas ele foi mais intenso nas regiões Norte e Nordeste e nos países do hemisfério Norte.
Planetas em conjunção
As conjunções planetárias são conhecidas desde a Antiguidade. A partir da disposição dos planetas no céu e da sua posição em relação aos outros planetas, os astrônomos gregos conseguiram estimar as distâncias planetárias.
Hiparco e Aristarco, entre outros, conseguiram dimensionar o tamanho do nosso Sistema Solar a partir dessas observações relacionando a distância dos planetas com a distância da Terra ao Sol. Esta última foi estimada a partir de um eclipse lunar e com o raio da Terra que havia sido estimado por Erastóstenes, que viveu no Egito entre 276 e 194 a.C.
Atualmente a observação dessas disposições planetárias não tem grande importância, uma vez que já são bem conhecidas. A previsão das suas ocorrências, no entanto, é de fundamental importância para o planejamento das viagens espaciais, principalmente aos planetas gigantes do Sistema Solar, como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Para muitas pessoas, porém, a disposição dos planetas em relação a uma determinada constelação ou a outro astro pode inspirar muitos temores ou dar certezas de sucesso.
A astrologia, pseudociência que tenta relacionar a disposição dos astros no céu com os destinos das pessoas nas Terra – e que já tive a oportunidade de contestar em uma coluna anterior –, utiliza muito em suas previsões essas configurações planetárias.
Em particular, a presença de vários planetas na mesma constelação no céu leva a diferentes interpretações astrológicas. Recentemente, por exemplo, a presença de Vênus, Marte, Saturno e da Lua na constelação de Virgem e de Mercúrio na constelação de Leão foi vista pelos astrólogos como um evento rico em significados.
Mas, do ponto de vista estritamente científico, a disposição dos planetas no céu não influencia em nada vida das pessoas. Primeiramente, a posição dos planetas é relativa ao seu movimento. Eles podem parecer próximos no céu, mas espacialmente não estão. Além disso, as constelações também são apenas configurações de estrelas vistas da Terra, não havendo nenhum vínculo físico entre elas.
Chuvas de meteoros
Os meteoros, por sua vez, são objetos cuja extensão pode variar de alguns centímetros até quilômetros. Ao entrar na atmosfera, esses objetos sofrem grande atrito e, como consequência, atingem altíssimas temperaturas – por isso eles aparecem como pontos luminosos correndo no céu. Uma chuva de meteoros é um evento em que um grupo de meteoros é observado irradiando de um único ponto no céu, chamado de radiante.
Os meteoros avistados nessas chuvas são geralmente detritos resultantes da passagem de um cometa. Toda vez que um cometa se aproxima do Sol, parte do seu material é vaporizado, criando a sua cauda que deixa pedaços espalhados ao longo da sua órbita. Quando a Terra cruza a órbita do cometa, vários pedaços entram na atmosfera formando a chuva de meteoros.
A chuva das Perseidas tem origem no cometa Swift-Tuttle, que completa uma órbita ao redor do Sol a cada 131 anos. Esse é o maior objeto com passagem periódica pela Terra. Sua parte sólida, com cerca de 27 km de extensão, é maior que o cometa Halley, famoso por suas passagens muito luminosas.
Embora a Terra cruze a órbita desse cometa todos os anos (por isso ocorre a chuva de meteoros Perseidas), a probabilidade de uma colisão conosco é muito pequena. Estimativas para os próximos milhares de anos indicam que somente em 15 de setembro de 4.479 há uma probabilidade de colisão da ordem de uma em um milhão, ou seja, muito remota.
Previsões astronômicas e astrológicas
As previsões astronômicas dos movimentos dos astros atingem um grau de precisão muito alto e podem ser verificadas a partir de observações do céu com instrumentos especializados. As previsões astrológicas, por outro lado, não são validadas por não serem verificadas nem por métodos estatísticos.
Parte do sucesso nas previsões astronômicas decorre devido ao fato de a interação responsável pelo movimento planetário ser de natureza gravitacional. Com os atuais computadores, é possível realizar cálculos orbitais muito precisos.
Já na astrologia, como não se identifica a interação responsável pelos alegados efeitos dos astros na vida das pessoas, não se consegue identificar as eventuais causas das influências. Os movimentos dos objetos celestes podem até ser complicados, mas não são incompreensíveis. As previsões astrológicas são apenas atos de fé.
Adilson de Oliveira
Departamento de Física
Universidade Federal de São Carlos