Uma possível cena em Liaoning (China) há 125 milhões de anos: uma planta Archaefructus atrai um inseto, que por sua vez atrai um pterossauro insetívoro Dendrorhynchoides . A interação entre as primeiras angiospermas e estes animais seria responsável pelo sucesso dessas plantas, que dominam as paisagens dos dias de hoje
(arte: Maurílio Oliveira / Museu Nacional)

Fóssil de Archaefructus sinensis
(foto: Ge Sun et al., Science )
A flor das duas espécies de Archaefructus não se parece muito com isto. Ela é alongada, saindo diretamente a partir da última ramificação com folhas. Não existem sépalas ou pétalas. O estame, desenvolvido em pares, possui a base curta. O carpelo se situa na parte superior da planta, a uma certa distância do estame. No entanto, o fato de a Archaefructus possuir na mesma haste os órgãos reprodutivos femininos (carpelos, envolvendo as sementes) e masculinos (estames), feição típica das angiospermas, faz com que os paleobotânicos (pesquisadores que estudam os vegetais fósseis) considerem essas plantas como as angiospermas mais primitivas conhecidas até o momento, classificadas em um grupo a parte denominado de Archaefructaceae.
Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
04/02/05
Paleocurtas
As últimas do mundo da paleontologia
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A mini-exposição Encontro de Gigantes na Pré-História do Brasil Central foi inaugurada no Museu Nacional/UFRJ. Apresentando resultados de um projeto de pesquisa sobre mamíferos do Pleistoceno (há cerca de 12 mil anos) encontrados em uma caverna submersa da região de Bonito (MS), a vedete dessa mostra é um filhote de mastodonte – grupo extinto que evoluiu separadamente dos elefantes modernos e dos mamutes. O público pode observar passo-a-passo os trabalhos da reconstrução em vida de um pequeno mastodonte. A mostra deve se estender até o mês de abril.
Neste exato momento um grupo de pesquisadores e alunos do Museu Nacional/UFRJ está realizando trabalhos em conjunto com colegas argentinos na região do lago Los Barreales, a cerca de 90 km da cidade de Neuquén, na província homônima da Argentina. Essa área é muito rica em fósseis de vertebrados do Cretáceo (com cerca 90 milhões de anos), particularmente dinossauros. Veremos quantas novidades este trabalho entre argentinos e brasileiros irá produzir! Saiba mais em http://www.proyectodino.com.ar .
De 4 a 8 de outubro de 2005 será realizado o International Symposium on Dinosaurs and other Vertebrates Palaeoichnology em Fumanya (Barcelona, Espanha), com o objetivo de congregar os paleoicnólogos – pesquisadores que se dedicam ao estudo das pegadas e dos rastros fósseis. O evento é bastante oportuno uma vez que, nos últimos anos, foram realizadas várias descobertas de novas localidades com icnofósseis de vertebrados, que pouca atenção têm recebido pela sociedade em geral.
Restos de sapos fósseis do grupo Bufonidae foram recentemente encontrados em sedimentos de aproximadamente 26 milhões de anos da Bolívia. O material, estudado pelas pesquisadoras Ana Maria Baez e Laura Nicoli, da Universidade de Buenos Aires, pertence ao gênero Bufo , que vive atualmente e possui uma distribuição quase cosmopolita. O estudo, publicado no Journal of Vertebrate Paleontology , mostra que a diversificação dos membros de Bufonidae ocorreu bem antes do que se supunha.
Um estudo sobre um grupo de peixes fósseis de água doce do grupo Paraclupeidae (semelhantes aos arenques), que viveram entre 115 e 45 milhões de anos atrás, corrobora a hipótese de que, em algum momento da evolução, o oceano Ártico era predominantemente de água doce. Segundo os autores Mee-Mann Chang (Institute of Vertebrate Paleontology and Paleoanthropology, China) e John Maisey (American Museum of Natural History, EUA), essa teoria explicaria a distribuição de alguns peixes de água doce em diversos depósitos fossilíferos do Brasil, Guiné Equatorial (na África) e China. O estudo foi publicado no American Museum Novitates .
Uma interessante descoberta foi relatada por pesquisadores do Instituto de Geociências da UFRJ e da UFSCar: urólitios! O material foi encontrado no município de Araraquara (SP) e é procedente de camadas da Formação Botucatu, cuja idade é estimada em aproximadamente 132 milhões de anos. Essa região – um paleodeserto – é bem conhecida pela presença de pegadas fósseis. Até o momento apenas dois exemplares de urólitos (extrusões líquidas fossilizadas) foram encontrados, ambos atribuídos a dinossauros. Esta descoberta, a primeira do tipo no Brasil, foi publicada na Revista Brasileira de Paleontologia e demonstra a diversidade do registro fóssil preservado nas rochas.
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