Combate à dengue na era digital

Um sistema computacional desenvolvido por pesquisadores brasileiros pode se tornar a nova arma das autoridades na batalha contra o mosquito da dengue. A ferramenta permite a integração, em tempo real, de dados fornecidos por agentes de saúde, gestores municipais, médicos e a população. Dessa forma, o controle de focos e a identificação de pessoas infectadas poderão se tornar mais ágeis e eficientes.

O modelo computacional tem como componente básico um sistema cartográfico de informação que registra todos os dados da cidade: ruas, praças, casas, prédios residenciais e comerciais, escolas, hospitais etc. O dispositivo integra o projeto Webdengue, que conta com diversos módulos para reunir informações produzidas pelas várias “frentes” de combate à dengue.

Com base em dados sobre possíveis focos do Aedes aegypti, o sistema computacional elabora os itinerários dos agentes de saúde de forma a tornar mais produtivo o trabalho de prevenção da dengue.

Os cidadãos poderão entrar em contato por meio da internet ou do telefone, sem qualquer intervenção de telefonistas, para informar a localização de possíveis focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Os agentes de saúde, por sua vez, receberão um palmtop com suas atividades diárias e o percurso a ser realizado. Eles poderão registrar em tempo real as tarefas executadas e os focos da doença confirmados.

Médicos e hospitais credenciados também poderão enviar ao sistema dados sobre pacientes com suspeita de dengue. Já os laboratórios de análises clínicas informarão se a doença foi confirmada, enquanto os laboratórios de zoonoses poderão fornecer dados pertinentes sobre o mosquito Aedes aegypti.

O sistema, desenvolvido por uma equipe da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em parceria com a Coordenação de Programas de Pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), centraliza as informações obtidas e faz o cruzamento das estatísticas de casos confirmados e de focos da doença. Dessa forma, as autoridades podem contar com dados mais confiáveis e tomar decisões mais rapidamente e com maior acerto.

O projeto inclui ainda modelos de logística que coordenam todas as ações de combate à dengue, para garantir a máxima produtividade. A cidade é dividida em zonas para que seja estabelecida a seqüência de operações a serem realizadas e feita a alocação dos agentes de saúde.

Segundo um dos coordenadores do projeto, o engenheiro de sistemas Adilson Elias Xavier, da Coppe, o uso do sistema permite aumentar a qualidade dos dados gerados e confere maior velocidade ao fluxo de informações. “Além disso, o projeto tem uma estrutura flexível, que permite expansões e adaptações, e pode ser usado também no combate a outras zoonoses.”

Do Ceará para o Rio
A eficácia do sistema foi comprovada por testes feitos em uma região da cidade de Fortaleza em 2005. Agora, os pesquisadores negociam a implementação do programa no Rio de Janeiro, que passou este ano por uma das piores epidemias de dengue já registradas.

Segundo Xavier, os modelos de logística permitirão o maior controle sobre todas as áreas da cidade. “A estratégia atual de prevenção e combate certamente não conseguiu cobrir todas as regiões, em especial bairros da zona Oeste [do Rio].” Hoje, os dados sobre a dengue não são centralizados e os médicos muitas vezes deixam de preencher os longos questionários sobre os casos de suspeita da doença devido à grande demanda de pacientes para serem atendidos.

O biólogo Leandro Layter, membro da equipe que desenvolve o projeto, ressalta que o modelo atual de controle da dengue está obsoleto. “As práticas vigentes são as mesmas adotadas há mais de 60 anos”, conta. Segundo ele, os casos de dengue notificados por meio de formulários pela rede de saúde pública podem demorar de sete a dez dias para serem incluídos no sistema computacional atual.

Layter acrescenta que um foco de mosquitos pode levar muito tempo para ser identificado. Por outro lado, o ciclo do Aedes aegypti na água é muito rápido: cerca de oito dias. “Quando as autoridades tomam ciência de um foco, sua população pode ter se multiplicado centenas de vezes”, alerta.

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
22/05/2008