Como o mundo era visto séculos atrás?

Mapas são definidos como representações planas de um território. No entanto, eles não delimitam apenas fronteiras geopolíticas: são também delineadores da construção social. Uma análise da evolução dos mapas nos permite conhecer as diferentes concepções de mundo de cada época e lugar. Essa é a proposta da exposição O tesouro dos mapas , que reúne 182 peças, entre cartas e instrumentos, para contar a história da representação do mundo e do Brasil entre os séculos 15 e 19.

Mapa-múndi francês do séc. 18, já com representação das “novas terras”

Das cartas-portulano, desenhadas em pergaminho animal, aos atlas mais completos, todos os mapas refletem a visão do cartógrafo (que por volta do século 16 era chamado de cosmógrafo). Os desenhos do mundo eram baseados em relatos de viajantes, o que tornava as informações imprecisas. Por isso, os mapas não eram usados para guiar os navegantes (papel que cabia às cartas náuticas), e adquiriam status quase de obra de arte.

 

 

A exposição foi montada numa ordem que permite às pessoas comparar as diferentes cartas e interpretar como o desenho do mundo se modificou até chegar ao formato que conhecemos hoje. A cronologia foi deixada um pouco de lado, por nem sempre ser fator determinante de mudanças nas representações cartográficas. “Alguns mapas de datas próximas contêm informações diferentes, o que era normal, pois quase não havia comunicação entre cartógrafos”, explica o curador da exposição, Paulo Miceli. “Isso não significa que existam mapas errados, mas visões cartográficas diferentes.”

Algumas dessas concepções são bem interessantes, pois refletem o pensamento da sociedade do cartógrafo. Uma das cartas-portulano traz o desenho do Mar Vermelho com uma fenda, em alusão ao trecho bíblico em que Moisés abre o mar para a passagem dos egípcios. Diversos mapas desenham o mundo emoldurado pelos quatro elementos, as estações do ano e povos que habitavam a Terra. No plano político, os mapas feitos para os portugueses por volta dos séculos 16 e 17 retratam a América ‘abatatada’, para parecer maior e não demonstrar que Portugal foi prejudicado no Tratado de Tordesilhas.

 

Mapa do século 17 mostra a tomada de um carregamento de açúcar na Baía de Todos os Santos (BA)

Nos séculos 17 e 18 o Brasil passa a chamar a atenção dos cartógrafos europeus, e suas regiões ganham representações próprias. O ambiente exótico do país é tema de vários mapas da época e faz da Amazônia um dos lugares mais retratados. Também são freqüentes mapas do Sul e de diversos lugares do Nordeste, que retratam não só suas formas geográficas, mas os aspectos físicos, os habitantes, a cultura e as rotas do açúcar. As características sociais também estão presentes nos mapas do Rio de Janeiro, São Paulo e outros estados brasileiros.

 

Paulo Miceli acredita que a representação das fronteiras do Brasil pode ter sido significativa para a formação do país. “A noção de nacionalidade veio sendo criada ao longo do tempo, pela língua e pelo desenho da terra.” Para reproduzir o clima em que foram criados os mapas, a exposição traz ainda miniaturas de naus, sextantes, bússolas, lunetas, globos celestes e outros instrumentos de que se valiam os desenhadores do mundo.

 

O Tesouro dos Mapas
Museu Nacional de Belas Artes
Av. Rio Branco, 199, Centro – Rio de Janeiro/RJ
Telefones: (21) 2240-9869/ 2240-0068
De terça a domingo, das 10h às 18 h
Até 02/03/2003
Entrada: R$ 4,00 – estudantes:R$ 1,00
(entrada gratuita aos domingos)

Gisele Lopes
Ciência Hoje on-line
24/01/03