Comportamento e hábitos de consumo das patricinhas cariocas

É só caminhar pelas ruas da Zona Sul do Rio de Janeiro, parte nobre da cidade, para identificar algumas delas. Sempre na moda e com roupas de marca, se arrumam até para ir à padaria. Vítimas de preconceito, elas são vistas muitas vezes como frescas, metidas e fúteis. Hoje, as patricinhas formam mais do que uma simples tribo: elas praticam um estilo de vida que já se disseminou por todo o país.

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Alunas de graduação da Escola de Comunicação da UFRJ. O curso é
um dos mais visados pelas adolescentes entrevistadas na pesquisa

A antropóloga Cláudia da Silva Pereira, em sua tese de mestrado defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), retrata as características e comportamentos definidores desse estilo de vida a partir da análise de questionários e entrevistas realizadas com adolescentes entre 15 e 19 anos. Todas estudam em escolas particulares e moram na Zona Sul. A revista Capricho e o seriado americano Friends , unanimidades entre as patricinhas, também foram analisados pela pesquisadora.

Cláudia concluiu que o estilo de vida desse grupo se define em função tanto de seu comportamento quanto de seus hábitos de consumo. Ela registrou que as pesquisadas ganham R$142,00 em média de mesada (mais da metade de um salário mínimo) e a maioria gasta esse dinheiro para sair à noite ou para comprar roupas, sobretudo da marca Cantão, a mais citada nos questionários. Todas são muito vaidosas: 69% usam maquiagem, 57% usam produtos de tratamento para pele (a maioria para acne) e 56% vão regularmente ao cabeleireiro. 80% delas têm o hábito de ir à praia, de preferência em frente ao Posto 9, em Ipanema. Grande parte das adolescentes entrevistadas pretende cursar faculdade de Comunicação Social ou de Direito.

A gíria ’patricinha’, inspirada em uma socialite carioca chamada Patrícia Leal, foi criada no início dos anos 90 pelo jornalista Zózimo Barroso do Amaral, colunista do Jornal do Brasil. Atualmente, essa gíria já é verbete dos dicionários Aurélio e Houaiss.

Cláudia também analisou nove edições da revista Capricho , publicação lida por 39% das adolescentes. A maior parte das matérias tratava de moda ou relações amorosas, sempre em tom instrutivo. A revista funciona como fonte de dicas sobre roupas e namoro para as adolescentes em geral, não só para as patricinhas.

O seriado Friends também foi bastante citado pelas entrevistadas. Apesar de a média de idade dos personagens ser de 30 anos, seus laços de amizade atraem a atenção de adolescentes. A grande audiência de Friends pode ser explicada pela identificação no seriado de pessoas que se encontram num estágio, tanto profissional quanto de maturidade, mais avançado do que as próprias entrevistadas, mas que ainda mantêm a parte boa da adolescência — estreita convivência e descobertas feitas junto com amigos.

Para as entrevistadas, “ser patricinha”, rótulo de caráter negativo, é diferente de “parecer patricinha”, forma positiva de exercitar a vaidade. “As patricinhas são vistas com preconceito pelas adolescentes”, disse Cláudia. “Aquelas que assumem esse estilo geralmente se defendem ao afirmar que não são ’patricinhas legítimas’, pois apenas se preocupam com a aparência, prática considerada saudável socialmente.”

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
09/09/03