‘Concreto verde’

Os blocos de concreto usados na engenharia civil são formados por uma mistura de água, cimento, areia e brita (pequenos fragmentos de pedra). Mas os esforços de uma equipe de alunos de graduação da Escola Politécnica e da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro podem mudar a composição deste material. Coordenados pela professora de engenharia civil Ana Catarina, eles estão desenvolvendo um projeto de iniciação científica com o objetivo de formar blocos de concreto com agregados plásticos reciclados, usados para substituir a brita.

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No destaque, o plástico usado como agregado alternativo; ao fundo, areia e cimento (outros componentes do concreto)

Os agregados são encontrados na forma de flocos plásticos, produzidos por cooperativas de catadores de lixo. Pequenos, leves e resistentes, eles substituem satisfatoriamente a brita sem acarretar prejuízos na resistência dos blocos. “A idéia é substituir uma matéria prima não renovável — a brita — pelos pequenos flocos plásticos, sem perdas de qualidade no material final”, explica Ana Catarina que, para a pesquisa, conta com o apoio da empresa de pré-moldados de concreto Cora.

“A medição preliminar de dimensão e massa específica demonstra que a resistência do material está de acordo com os padrões da Associação Brasileira de Normas Técnicas para confecção de blocos como elemento de vedação”, afirma a professora. Ela ressalta que, por ora, os blocos só seriam aplicados em divisões de ambientes (paredes). “A função estrutural exige uma capacidade de suporte extrema, e seriam necessários mais testes antes de aplicarmos os blocos nessa função.”

O bloco de concreto fabricado com resíduos plásticos se juntaria a um grupo de materiais com eficácia comprovada na substituição de recursos não renováveis por agregados reciclados, como tubos de esgoto, tintas e revestimentos (fórmica). Ana Catarina ressalta, no entanto, que os testes técnicos ainda estão em curso e que a viabilidade econômica só poderá ser avaliada posteriormente. “Ainda estamos realizando os testes de compressão e absorção e faltam comprovações de que o plástico seja inerte a reações químicas dentro da composição.”

E, embora a reciclagem de materiais plásticos seja cada vez maior — o Brasil já recicla mais de 35% de garrafas do tipo PET, por exemplo –, o preço do agregado plástico ainda é mais caro do que o da brita. “As pedreiras trabalham com custo de operação pouco elevado e a transformação de rejeitos plásticos em agregados é feita com consumo de energia elétrica, o que encarece o processo.”

A professora explica que seriam necessários subsídios à produção dos blocos e os defende como política de proteção ambiental. “As próprias fábricas de refrigerantes e produtos de limpeza poderiam se interessar pelo projeto, já que há uma lei estadual no Rio de Janeiro que responsabiliza as empresas que utilizam PETs pela destinação final das garrafas.” Ana Catarina cita ainda um problema ambiental com as pedreiras: “por mais que a brita seja mais barata do que o agregado, sua coleta acarreta danos irreversíveis ao meio ambiente, além de prejudicar a saúde de populações próximas”.

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
13/02/04