Consumo freqüente de álcool poderia reduzir risco de infarto

O consumo freqüente de cerveja, vinho e destilados pode prevenir ataques cardíacos. É o que sugerem os resultados de uma pesquisa publicada em 9 de janeiro no New England Journal of Medicine . Segundo o estudo, homens que consomem moderadamente bebidas alcoólicas três ou mais vezes por semana correm menos risco de sofrer infarto do miocárdio que os abstêmios.

A pesquisa, realizada na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard (EUA), acompanhou por 12 anos o consumo de álcool de 38077 profissionais de saúde do sexo masculino com idade entre 40 e 75 anos. “Os resultados mostram que mesmo pequenas quantidades de álcool podem ter efeito protetor se consumidas freqüentemente”, diz Kenneth Mukamal, professor de medicina de Harvard e autor principal do artigo.

O estudo começou em 1986, quando o grupo pesquisado respondeu a um questionário detalhado que incluía perguntas sobre dieta alimentar, histórico médico e hábitos de consumo de álcool. A partir daí, a cada quatro anos os participantes respondiam a um novo questionário. Houve 1418 casos de infarto do miocárdio, fatais ou não, entre os participantes durante o período de 12 anos.

Os cientistas avaliaram o tipo de bebida consumida, a quantidade média ingerida, a freqüência do consumo e se a bebida era ou não ingerida durante as refeições. A interpretação dos dados levou em conta os seguintes fatores: idade, tabagismo, prática de atividade física, predisposição genética a doenças cardíacas, índice de massa corporal, diabete, pressão alta, níveis de colesterol, uso de aspirina e dieta alimentar.

Os resultados indicam que o consumo de álcool está ligado ao menor risco de sofrer de doenças coronarianas, seja qual for o tipo de bebida consumida ou a quantidade ingerida por dia. A única variável consistentemente associada à queda do risco de infarto foi a freqüência do consumo.

Os participantes foram divididos em quatro categorias, de acordo com o número de vezes que bebiam por semana: nenhuma, menos de duas, de três a quatro e mais de cinco vezes. Os pesquisadores constataram que os participantes das duas últimas categorias tinham o risco de sofrer de doenças coronarianas 32 a 37% menor que os abstêmios.

Segundo Mukamal, dois fatores poderiam explicar os resultados. Além de elevar em geral as taxas de HDL (o ‘bom colesterol’), o álcool poderia melhorar o metabolismo do açúcar do sangue e impedir a formação de coágulos, que pode levar ao infarto. “Parece que a ação sobre a formação de coágulos tem curta duração. Isso explicaria por que o consumo freqüente de álcool é mais eficaz contra doenças coronarianas”, explica.

Mas o cientista ressalva que a descoberta deve ser tratada com cautela. “É sempre arriscado dar recomendações individuais baseadas em estudos com grande número de pessoas”, diz. “Antes de determinar o nível de consumo de álcool seguro para cada indivíduo, deve-se levar em conta outros fatores como os riscos de dirigir embriagado e de desenvolver doenças hepáticas, além do histórico familiar.”

Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
08/01/03