Louro, castanho, ruivo ou preto? A cor dos cabelos de um criminoso ainda não identificado é um dado relevante para as autoridades que o procuram. No entanto, até hoje não era possível obter essa informação por meio de testes de material genético deixado em uma cena de crime. Até hoje.
Cientistas da Universidade Erasmus de Roterdã, na Holanda, em parceria com pesquisadores poloneses, conseguiram prever, com alto índice de precisão, a tonalidade do cabelo de uma pessoa por meio do exame de seu DNA.
Na pesquisa, publicada no periódico Human Genetics, os cientistas coletaram o DNA de 385 poloneses e conseguiram identificar 13 marcadores genéticos que determinam a cor do cabelo. A partir daí foi possível desenvolver o exame que indica com mais de 90% de precisão se uma pessoa tem cabelos ruivos ou pretos e mais de 80% no caso de cabelos louros ou castanhos.
Mudança de tonalidade
O autor principal do estudo, o geneticista Manfred Kayser, do Centro Médico Universitário Erasmus, explica que é mais difícil identificar os louros e castanhos porque há muitos casos de pessoas que nascem com cabelos claros que depois escurecem.
Segundo Kayser, a razão para essa alteração vem mais do ambiente do que da contribuição genética. “Dentre os voluntários que testamos, havia indivíduos que experimentaram essa mudança de cabelo na adolescência e nós os agrupamos entre os castanhos, embora eles tenham um genótipo louro associado”, diz em entrevista à CH On-line.
A análise genética identifica ainda três tonalidades intermediárias: louro-escuro, louro-avermelhado e castanho-avermelhado. Antes da nova técnica, só era possível determinar a cor dos cabelos de um indivíduo por meio do DNA se ele fosse ruivo, pois as características genéticas para os fios vermelhos são mais raras e evidentes.
Todos os marcadores genéticos analisados no estudo já eram conhecidos e relacionados aos cabelos. O grande diferencial da pesquisa foi a sua magnitude e o detalhamento do papel desses marcadores na predisposição da cor.
Aliado na investigação criminal
De acordo com Kayser, a equipe agora pretende formalizar e otimizar o teste desenvolvido. “Nossa meta é torná-lo adequado para a utilização forense”, afirma. E acrescenta: “Uma importante questão a ser resolvida é descobrir qual é a amostra mínima de DNA necessária para tornar o teste confiável.”
A equipe de Kayser já havia demonstrado que é possível determinar a idade e a cor dos olhos por meio do DNA. Essas descobertas devem ser usadas em breve para resolver crimes na Holanda e o pesquisador acredita que o novo teste terá a mesma aceitação.
Outro ponto que ainda deve ser consolidado futuramente é a validade do teste para pessoas de outras origens geográficas. “Como utilizamos apenas indivíduos europeus na nossa pesquisa, teremos que provar que o teste também vale para outros povos”, esclarece Kayser.
O cientista acredita que não vai encontrar surpresas, pois os indivíduos de origem não europeia costumam ter o mesmo padrão de cor de cabelo durante toda a vida, o que tornaria o índice de acerto do teste ainda maior.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line