Você já deve ter passado por isso. Tentou usar um sachê de ketchup e se sujou todo ou quase desistiu pela dificuldade de abrir a embalagem com o nada fácil ‘abre-fácil’ – o picote que vem em produtos para ajudar a abri-los. Quando uma das mãos segura um sanduíche, a tarefa torna-se ainda mais complicada.

Acostumado a essas situações, o administrador de empresas Leopoldo Aquino Almeida, do Rio de Janeiro, se surpreendeu ao receber, numa lanchonete, um pratinho com os sachês já cortados por uma tesoura.

Poder usar o sachê mesmo com o sanduíche na outra mão o levou a pensar: por que não desenvolver uma forma mais fácil de abrir esse tipo de embalagem?

Desempregado, resolveu levar a ideia adiante. “As pessoas costumam imaginar boas soluções para problemas, mas não saem da zona de conforto. Eu resolvi apostar”, conta Almeida.  Após um ano desenvolvendo protótipos do produto, em 2008, o administrador chegou ao resultado final – o Khort.

O produto é feito de três peças de plástico que formam uma estrutura em ‘U’. A abertura estreita deste ‘U’ é atravessada por uma lâmina em diagonal. Para usá-lo, basta passar o sachê por ali e a embalagem está aberta. O Khort pode ser fixado em outras superfícies, graças a uma fita adesiva dupla-face na parte posterior. E vale também para outros produtos embalados com filme plástico, como biscoitos e preservativos.

O produto tem uma lâmina no centro para cortar as embalagens e uma fita dupla-face na parte posterior para fixá-lo em outras superfícies (foto: divulgação).

Dificuldades antes do prêmio

A praticidade do cortador de sachês rendeu a Almeida o prêmio de melhor invenção das Américas na Exposição de Invenções e Novos Produtos (Inpex, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, em junho deste ano.

Antes do reconhecimento, porém, o administrador de empresas diz que foi difícil encontrar quem apostasse no produto. Ele tentou obter financiamento público com programas de incentivo à inovação, mas, como não podia oferecer garantias, teve que recorrer ao investimento privado. “Os investidores brasileiros ainda são conservadores. Acham a ideia ótima até ter que desembolsar dinheiro”, lamenta.

O produto começou a ser vendido pelo site em 2009, e a produção média já atingiu 50 mil unidades por mês. Número sustentado pela demanda de grandes redes comerciais e pequenos comerciantes, que devem ver o uso dos sachês aumentar.

Segundo uma pesquisa de mercado feita por Almeida, o Khort pode elevar em até 20% o consumo dos condimentos. “Muitos sachês não são usados porque as pessoas têm dificuldade de abrir a embalagem”, aponta ele.

Armazém de bactérias

Muito comuns no Brasil, os sachês substituem as antigas bisnagas – que armazenavam não só condimentos, mas bactérias. Isso até a promulgação de uma lei que obriga ao uso das atuais doses individuais e descartáveis, mais higiênicas.

Segundo Almeida, bisnagas ainda são comuns nos Estados Unidos, mas também lá o Khort começa a ser procurado. Por se tratar do país do fast-food, a demanda tem sido grande entre motoristas – que às vezes fazem refeições dentro dos carros. Segundo o administrador, escolas também devem aderir ao produto, que se mostra seguro às crianças.

A adesão poderá colocar em discussão um velho problema: o aumento do consumo de guloseimas (e das calorias) que geralmente vêm embaladas em filmes plásticos – isso para não falar no lixo que geram.

Polêmicas à parte, o produto deixa seu criador bastante satisfeito. Ele já pensa, inclusive, em prestar consultoria a novos inventores. E destaca a importância do empreendedorismo. “Uma ideia não vale nada enquanto você não a transforma em algo palpável. Hoje, as leis facilitam sua concretização. Basta querer colocá-las em prática”, incentiva Almeida.

Debora Antunes
Ciência Hoje On-line