Costa Ribeiro relembrado

A cerimônia comemorativa do centenário do nascimento de Joaquim da Costa Ribeiro (1906-1960), um dos precursores da pesquisa em física no Brasil, reuniu grandes nomes da comunidade acadêmica no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro. O evento celebrou, na tarde de 23 de novembro, não só o trabalho e a figura do professor, mas também a importância da pesquisa científica no país.

Costa Ribeiro (à esquerda) em 1952, em recepção no Rio de Janeiro ao físico italiano Giuseppe Occhialini (segundo à direita) – os demais são César Lattes e Martha Lattes. (Foto: AHHC/ CLE/ Unicamp).

Inventivo, humanista, sereno, humilde e, apesar de introspectivo, sempre sorridente ao falar de seus experimentos. Esses são alguns dos adjetivos usados por colegas de trabalho e familiares do engenheiro eletricista Joaquim da Costa Ribeiro para descrever sua personalidade. O professor, que começou seus estudos físicos na década de 1940, época em que os laboratórios brasileiros não tinham estrutura sequer próxima à dos internacionais, foi responsável por uma descoberta científica de importância mundial: o efeito termodielétrico.

Posteriormente chamado de efeito Costa Ribeiro, esse fenômeno mostrou ser possível eletrificar sólidos com carga permanente – os eletretos – sem o uso de corrente elétrica, apenas através da mudança de estado físico de isolantes, passando obrigatoriamente pelo estado sólido. A descoberta atraiu o interesse da comunidade científica internacional para o Brasil e rendeu posteriormente ao seu responsável o prêmio Einstein da Academia Brasileira de Ciências.

Prêmios, aliás, foram muitos ao longo da carreira do físico. “Todos penhorados na Caixa Econômica para ajudar a manter os seus dez filhos”, relembra Carlos Costa Ribeiro, o representante deles, na cerimônia de homenagem, minutos antes de realizar oficialmente a doação do acervo de seu pai ao museu do CBPF. “Infelizmente, alguém esqueceu de retirar os penhores”, brinca. Joaquim da Costa Ribeiro foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A julgar pelo entusiasmo de seus admiradores ao relembrar as realizações do físico, sua contribuição para a ciência brasileira foi muito além das quatro paredes dos laboratórios. “Ele tinha uma missão de desenvolvedor da ciência no país. Considero seu trabalho o eixo sobre o qual se estruturou a ciência brasileira”, exalta o físico Sérgio Mascarenhas, do Instituto de Estudos Avançados de São Carlos, da Universidade de São Paulo. “Ele iniciou um ciclo que uniu empresa, laboratório e universidade e quebrou muitos paradigmas de crescimento científico no Brasil”, complementa.

A luta para tornar a pesquisa dentro das universidades mais autônoma, atualizada, articulada com o cenário internacional e desvinculada de interesses políticos ganhou destaque nas ações de Costa Ribeiro. “Sua idéia era a de que não havia incompatibilidade entre o trabalho científico e o uso prático. O importante não era apoiar só o que podia gerar tecnologia. Ele pensava em como inserir a ciência dentro da universidade”, destaca o sociólogo Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.

Para o diretor do CBPF, Ricardo Galvão, é preciso pensar o Brasil hoje através dos olhos de Costa Ribeiro. “As instituições científicas no país são muito pequenas. Precisamos de mais espaço, mais força e mais agilidade”, comenta. “O CBPF tem hoje apenas 60 pesquisadores. É patético.”

Além de ser lembrado por sua importância para a ciência do país, Costa Ribeiro foi exaltado também por seus dotes como poeta e pelas recordações da convivência com a família. “O que dizem os filhos é que o laboratório de Joaquim tinha o cheiro da mãe deles”, conta Sérgio Mascarenhas. “Isso porque ele usava como catalisador em suas experiências as latas de pancake da esposa.”

Um artigo sobre a descoberta do efeito termodielétrico foi publicado na CH 209, de outubro de 2004. Clique no ícone a seguir para baixar a versão do texto em PDF (284 KB) Arquivo de formato PDF. Pode ser aberto com o Adobe Acrobat Reader. Baixe gratuitamente de http://www.adobe.com/

Juliana Tinoco
Ciência Hoje On-line
24/11/2006