Curativo brasileiro promete rapidez na cura de ferimentos

Um curativo criado no Brasil promete um tratamento mais rápido para machucados e uma menor incidência de cicatrizes. O segredo do BandGel, criado por cientistas do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), é manter a umidade dos tecidos danificados. Estudos sobre cicatrização realizados desde os anos 1960 mostram que ferimentos mantidos úmidos curam-se mais rápido que aqueles nos quais os tecidos secam.

O BandGel é um curativo transparente que retém a umidade dos tecidos e permite a passagem de remédios solúveis em água

Não há pretensão de que o BandGel substitua a gaze e o esparadrapo, usados há décadas, que funcionam bem em alguns casos. Mas curativos secos aderem aos tecidos superficiais do machucado, que são removidos a cada troca da bandagem. Isso pode gerar um novo machucado e causar dor.

Além disso, a evaporação de água do tecido causa redução da temperatura local. A temperatura normal dos tecidos é de 36 o C. Em uma ferida aberta, sem curativo, a média é de 21 o C; em um machucado coberto com gaze, de 26 o C. A queda de temperatura causa contração dos vasos sangüíneos no local, o que prejudica a mobilidade e eficiência de leucócitos e fagócitos (células responsáveis pela defesa do organismo). A suscetibilidade a infecções aumenta, pois a gaze não impede a entrada de bactérias: estudos in vitro já mostraram que bactérias podem atravessar mais de 64 camadas de gaze.

O principal objetivo do BandGel é manter a umidade do ferimento — ele tem 90 % de água em sua composição. Os 10% restantes são uma mistura de polímeros naturais e sintéticos elaborada no Ipen. “A água presente no curativo está solidificada”, diz o engenheiro químico Ademar Lugão, pesquisador do Núcleo de Tecnologia de Polímeros do Ipen e coordenador do estudo. “Os polímeros são responsáveis por manter a água nesse estado”, explica.

O resultado é uma película transparente que possibilita visualizar o ferimento. O curativo retém a umidade dos tecidos e permite a passagem de medicamentos solúveis em água. “A droga é imediatamente absorvida pela estrutura aquosa e disponibilizada para a ferida de forma controlada”, diz Lugão.

Em geral, esse tipo de curativo pode permanecer na ferida por dois ou três dias. O desconforto causado é menor, pois o novo curativo não adere ao ferimento e as terminações nervosas do tecido atingido ficam protegidas da exposição e desidratação. A manutenção da umidade e temperatura no local atingido permite a ação das células de defesa. Por isso, o tempo necessário para a cura pode ser reduzido à metade.

A criação do BandGel é uma parceria entre o Ipen e a empresa farmacêutica Biolab e se baseou em um curativo existente na Europa. “Introduzimos modificações tanto na fórmula do produto quanto no processo produtivo”, diz Lugão. “Ainda não há patente, pois estamos estudando se as diferenças justificam um pedido original.” O custo do produto brasileiro é mais baixo que o de qualquer outro curativo avançado. O primeiro protótipo do BandGel foi desenvolvido para uso exclusivo em clínicas e hospitais, mas uma nova versão para venda em farmácias e supermercados já está em fase de elaboração.

Adriana Melo
Ciência Hoje On-line
14/05/03