Da desnutrição à obesidade

A obesidade é associada na maioria das vezes ao consumo exagerado de alimentos. No entanto, não é raro encontrar em populações de baixa renda homens e mulheres acima do peso. Desnutridas na infância, essas pessoas podem se tornar obesas e, na maior parte dos casos, sofrem de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Exceção?

Observar uma alimentação equilibrada na infância pode ajudar a evitar a obesidade na idade adulta (foto: Stela Murgel)

Pelo contrário. Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que isso é mais usual do que sugere o senso comum. A falta de alimentação adequada na infância seria um importante fator determinante da obesidade na idade adulta, conforme sustentam os resultados do estudo de Paula Andrea Martins, orientado pela professora Ana Lydia Sawaya, ambas do Departamento de Fisiologia da Unifesp.

As pesquisadoras acompanharam 53 crianças — no início eram 60, mas sete não foram encontradas no final — por um período de três anos em áreas carentes da cidade de São Paulo. Foram feitos testes de antropometria (medição da altura e estatura) e densitometria óssea (determinação da densidade óssea e da composição corporal) ao início e ao final da pesquisa.

Nas crianças com baixa estatura — um indicador de desnutrição crônica na infância –, o ganho de gordura foi maior do que entre aquelas com estatura normal. A explicação é que o organismo humano possivelmente apresenta um mecanismo de adaptação metabólica ativado quando há insuficiência de calorias ingeridas. Esse mecanismo preservaria os estoques de gordura e utilizaria parte da massa magra (músculos) quando fosse necessária mais energia — no caso de uma infecção, por exemplo.

“Provavelmente, quando a alimentação fornece energia insuficiente para o organismo durante um período prolongado, ele passa a privilegiar a manutenção do tecido adiposo”, explica Paula Andrea. “É uma forma de se proteger de uma possível falta de alimento no futuro.” Ela lembra que essa resposta é natural e ressalta que, além de uma boa alimentação, deve-se incentivar a prática regular de esportes como prevenção aos malefícios da obesidade.

Além da diabetes e da hipertensão, distúrbios ortopédicos e diminuição da capacidade respiratória podem ser citados como conseqüências graves da obesidade. “Para evitar essas complicações, o mais importante é implementar ações preventivas, como a realização de pré-natal de boa qualidade ou o tratamento da desnutrição nos primeiros anos de vida”, defende a pesquisadora.

Ela salienta a importância de uma alimentação completa, com frutas e verduras, e constata que as crianças nascidas em favelas são tão suscetíveis quanto as outras aos apelos para consumir doces, refrigerantes e outros alimentos de baixo valor nutritivo. “O aspescto mais importante desse estudo é demonstrar a importância da prevenção e tratamento da desnutrição nos primeiros anos de vida.”

A pesquisa de Paula Andrea se enquadra em um programa de combate à desnutrição desenvolvido pelo Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren) da Unifesp, em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

 

Para saber mais, visite os seguintes sites:
Centro de Recuperação e Educação Nutricional
Portal Vencendo a Desnutrição

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
06/11/03