Darwinismo nos trópicos

 

       

Consagrado e odiado por muitos após o lançamento do seu livro A origem das espécies em 1859, o britânico Charles Darwin (1809-1882) deu início à polêmica sobre a origem do Homo sapiens no fim do século 19. Alguns cientistas admitiram o princípio da seleção natural e buscaram evidências desse mecanismo na natureza. Outros repudiaram completamente essa idéia contrária a convicções religiosas que postulam um mundo regido pela vontade divina. Houve ainda pesquisadores que, com a teoria da evolução das espécies de Darwin, tentassem legitimar a superioridade de determinada raça.

null No Brasil, a introdução e recepção do darwinismo não foi diferente, pois também aqui conviveram resistência e aceitação. Em uma série de artigos reunidos pelos historiadores Heloisa Maria Bertol Domingues, Magali Romero Sá e Thomas Glick, o livro A recepção do darwinismo no Brasil pretende retratar essa polêmica e analisar o impacto que as idéias evolucionistas tiveram na produção científica do país.

O livro apresenta o confronto entre os vários cientistas que se envolveram com a teoria de Darwin no Brasil no final do século 19, o que mostra que o país estava atento aos debates científicos internacionais. Porém, o Brasil não participou apenas como um mero espectador. Foi aqui que surgiu a primeira tentativa de se encontrar evidências, no campo da biologia, de um exemplo da atuação da seleção natural defendida por Darwin.

Esse foi o trabalho do biólogo alemão Fritz Müller (1822-1897), que se estabeleceu no Brasil. Com o estudo de crustáceos em Santa Catarina, ele desenvolveu sua obra Für Darwin (“Para Darwin”, em alemão), um marco para a consolidação do darwinismo em todo o mundo. Seu estudo recebeu o aval do próprio pesquisador, com quem se correspondia freqüentemente.

Porém, as idéias de Darwin também foram utilizadas para justificar a inferioridade de índios e negros no país. A extrapolação das idéias evolucionistas para o campo social contribuiu bastante para estimular idéias preconceituosas — como a defesa do branqueamento da população — difundidas por alguns intelectuais brasileiros da época.

O livro, parte da Coleção Historia e Saúde da Editora Fiocruz, retrata de forma concisa a trajetória da recepção do darwinismo no país. É a leitura ideal para aqueles que pretendem saber como foram as discussões que a teoria provocou entre pesquisadores, médicos e intelectuais brasileiros na transição entre os séculos 19 e 20.

 

A recepção do darwinismo no Brasil
Heloisa Maria Bertol Domingues, Magali
Romero Sá e Thomas Glick (organizadores)
Rio de Janeiro, 2003, Fiocruz
189 páginas – R$ 21

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
22/01/04