De olhos bem abertos

 



Cirurgia de colocação do implante num coelho, na fase de testes in vivo .

Pacientes com doenças inflamatórias oculares podem começar a sonhar com o fim das injeções regulares usadas no seu tratamento. Pesquisadores brasileiros desenvolveram um implante biodegradável capaz de liberar corticóides – medicamentos utilizados para combater inflamações oculares – diretamente dentro do olho. Testado com sucesso in vitro e em coelhos, o implante promete oferecer uma alternativa eficaz aos tratamentos atuais.

O método poderá ser usado em pacientes com doenças como uveítes, retinopatia diabética, degeneração macular ou edema macular. O implante foi desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e contou com a colaboração de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

“O tratamento com corticóides por via oral causa grandes efeitos colaterais no organismo. Já os colírios não conseguem atingir uma concentração na região posterior do olho que trate as inflamações”, afirma a pesquisadora Sílvia Ligório Fialho, que elaborou o implante em seu doutorado em ciências farmacêuticas pela UFMG. “Uma terceira opção para o tratamento são as injeções intra-oculares que, embora sejam até o momento a solução mais eficaz, podem causar danos à retina e ao globo ocular dos pacientes, além de serem incômodas. Pensando nisso, desenvolvemos os implantes”.

Os implantes biodegradáveis são como comprimidos que podem liberar a droga durante meses diretamente na região que se deseja tratar e “derretem” sozinhos em seguida, sem que haja necessidade de retirá-los. O dispositivo elaborado pelo grupo da UFMG mede 1 milímetro de diâmetro, tem forma de bastão e requer apenas uma pequena cirurgia de aplicação, que usaria anestesia local e duraria poucos minutos.

Nos testes do implante feitos in vitro , a liberação da droga durou 25 semanas; já nos coelhos, 60% da droga foi distribuída em oito semanas. A fase de testes in vivo foi comandada pelos oftalmologistas Rodrigo Jorge e Rubens Siqueira, da USP de Ribeirão Preto, que estão desenvolvendo a técnica para colocação do implante.

Os pesquisadores esperam iniciar no já no segundo semestre os testes com pacientes humanos. Para isso, aguardam a aprovação pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Esses testes deverão durar um ano e só depois disso será possível pensar na comercialização da técnica. “A cirurgia e aplicação do implante deverão custar cerca de 3.000 reais”, estima o oftalmologista Rubens Siqueira.

A pesquisa foi premiada no Congresso Brasileiro de Retina e Vítreo, em 2004, e no Congresso Brasileiro de Catarata e Cirurgia Refrativa, em 2005. Artigos contendo os estudos já foram aceitos para publicação nas revistas Drug Delivery , especializada em tecnologia farmacêutica, e Current Eye Research , da área de oftalmologia.

Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
07/06/2006