
Parente próxima da lontra, a ariranha é um mamífero carnívoro comum ao longo dos rios da Amazônia (fotos: Grupo de Mamíferos Aquáticos Amazônicos).
A constatação foi feita por biólogos de um projeto para o monitoramento de mamíferos aquáticos na região. Em 1998, quando uma equipe esteve em uma das comunidades locais para estudar peixes-boi, os moradores começaram a relatar aos pesquisadores o aumento do número de ariranhas nas redondezas. Em 2002, o grupo começou seu estudo fazendo um levantamento da distribuição desse animal nos 13 igarapés (canal natural estreito que se forma entre duas ilhas fluviais ou entre uma ilha e terra firme) da reserva Amanã.
Os biólogos fizeram acampamentos nas proximidades desses canais, onde as ariranhas são geralmente vistas, para acompanhar sua rotina. “Encontramos grupos desses mamíferos em 4 dos 13 igarapés de Amanã, alguns com poucos animais e outros maiores, com até 11”, conta Danielle Lima, uma das biólogas participantes do projeto.
As ariranhas são um importante indicador ecológico. Seu aumento na região revela que a instauração da reserva de desenvolvimento sustentável tem sido eficaz na preservação do ecossistema local, ao proibir a caça predatória e informar a população sobre a importância da espécie no equilíbrio ecológico da região. A reserva Amanã é contígua à Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e ao parque Nacional de Jaú – juntos, eles formam um corredor ecológico com mais de 5.766.000 hectares, a maior área protegida de mata tropical do mundo.
Monitoramento
Filhote de ariranha mantido como animal de estimação por moradores locais.
Com o aumento do número desses animais, os biólogos tiveram a idéia de analisar seus hábitos alimentares para verificar se elas realmente se alimentam do mesmo tipo de peixe que movimenta a atividade pesqueira da área. “Acampamos durante 15 dias nas redondezas, percorremos os igarapés de canoa e coletamos suas fezes para estudar de quais tipos de peixe se alimentam” explica Danielle. Os estudos ainda estão em andamento, por enquanto sem conclusões.
A participação da comunidade nos estudos é fundamental para a evolução do projeto. Os moradores informam aos pesquisadores sobre os locais onde avistam as ariranhas e do que elas se alimentam – e como retorno, os biólogos fazem um trabalho de educação ambiental, ensinando sobre os hábitos desses animais.
Os pesquisadores tentam desmistificar a imagem negativa que as ariranhas têm entre as populações ribeirinhas. “Muitas pessoas acham que elas são perigosas por serem carnívoras”, conta Danielle. “Ensinamos, por exemplo, que o grito da ariranha não é um sinal de ataque, mas sim uma reação motivada pelo medo do que ela acredita ser uma ameaça.”
Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
25/04/2006