Degelo do Ártico pode ocorrer até 2100

O degelo do Ártico é tido como uma das consequências mais ameaçadoras do aquecimento global, pois pode levar a um aumento do nível dos oceanos em todo o planeta. Esse derretimento pode estar acontecendo mais rapidamente do que se pensava, segundo uma nova projeção. O modelo sugere que o oceano Ártico pode perder toda sua camada de gelo, durante o período de verão, até o fim deste século.

O oceano Ártico pode perder toda a sua camada de gelo durante o verão até o fim deste século, apontam novas projeções (foto: Rear Admiral Harley D. Nygren, NOAA Corps).

O estudo foi realizado pelos climatologistas Julien Boé, Alex Hall e Xin Qu, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), e publicado esta semana na revista Nature Geoscience. Segundo eles, os modelos usados para prever o degelo do Ártico até aqui foram incapazes de antecipar a extensão real dos níveis de derretimento atuais, o que pode lançar dúvidas a respeito das suas projeções para o futuro.

Segundo os pesquisadores, o derretimento da camada de gelo ártico no verão a cada ano foi bem mais intenso do que o projetado por simulações anteriores. “A redução da extensão da cobertura de gelo observada entre 1979 e 2007 foi de quase 30%”, explica Julien Boé à CH On-line. “Mas as simulações feitas até então apontavam apenas uma redução entre 1% e 25%”.

Segundo os autores do estudo, embora tenham subestimado as taxas de derretimento até agora, esses modelos apresentaram um padrão. As simulações anteriores que identificaram um derretimento mais brando até o presente também projetaram um derretimento menor para o século 21; já aquelas que identificaram um derretimento mais drástico até aqui também cogitaram uma redução maior para o futuro.

Se esse padrão se mantiver ao longo deste século, afirmam os climatologistas, é possível estimar, com base em dados obtidos por imagens de satélite, que a perda total do gelo marinho no ártico no mês de setembro — fim do verão no hemisfério Norte — ocorrerá por volta no ano 2100.

Recorde em 2007
Entre os anos de 1979 e 2006, a extensão da cobertura de gelo sobre o oceano Ártico no mês de setembro diminuiu aproximadamente 100 mil km 2 por ano. Em 2007, a camada de gelo alcançou seu nível mais baixo desde que foram iniciadas as observações por satélite, em 1979 – ela atingiu então 4,52 milhões de km 2 , segundo o Centro Nacional de Dados da Neve e do Gelo, nos Estados Unidos.

Além do aumento do nível dos mares, que pode trazer prejuízos a ilhas e cidades costeiras do mundo todo, o degelo dos polos ainda pode trazer outras consequências. Sem a camada branca que reflete a luz solar, o mar da região absorve mais calor, o que pode aumentar sua temperatura e afetar os padrões globais de correntes marinhas e de vento.

O derretimento do gelo leva a um processo de retroalimentação positiva, segundo Boé. “O aquecimento global faz com que a camada de gelo diminua e, dessa forma, mais energia solar é absorvida pela Terra, que se aquece ainda mais”, explica. “Se houvesse uma redução nas emissões de gases do efeito estufa, o derretimento não cessaria de imediato, mas poderia acontecer em um ritmo mais lento e evitar, assim, o desaparecimento total do gelo marinho de setembro no Ártico.”    

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
16/03/2009