Desenvolvido na UFRJ novo diagnóstico para tuberculose

José de Alencar, Castro Alves e Casimiro de Abreu têm mais do que poesia romântica em comum: todos eles morreram de tuberculose. Mesmo com a obtenção de drogas eficazes contra essa doença durante o século 20, ela continua a matar quase três milhões de pessoas anualmente nos países em desenvolvimento.

Telerradiografia de tórax de paciente com tuberculose pleural

Embora a tuberculose seja mortal em estágios avançados, o paciente pode ser totalmente curado se ela for logo identificada e se o tratamento recomendado for seguido à risca. Nesse sentido, a equipe do professor Marcus Conde, do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observou que a mesma técnica adotada para diagnosticar a tuberculose pulmonar — responsável por 90% dos casos — pode também ser aplicada para a tuberculose na pleura (membrana que envolve os pulmões).

A técnica se baseia na indução do escarro, pois a maioria dos pacientes não consegue tossir espontaneamente. Um nebulizador com uma solução salina induz a expectoração. Em minutos e com recursos simples é possível coletar amostras de escarro sem procedimentos agressivos.

“Além de o diagnóstico para tuberculose pleural não ser invasivo, sua grande vantagem é o uso em países com menos recursos, como o Brasil”, afirma Conde. “A rede de saúde carente que temos não permite que façamos diagnósticos mais sofisticados.” Em dois anos, 113 pacientes com tuberculose pulmonar foram estudados e pouco mais de 50% foram diagnosticados por meio do escarro induzido, o que derrubou a crença de que a tuberculose na pleura não afetava de forma significativa o pulmão.

Atualmente, a técnica mais usada para diagnosticar a tuberculose pleural consiste em inserir uma agulha no tórax do paciente para coleta de amostras da membrana (biópsia) ou retirada da ‘água na pleura’ (punção). “O escarro induzido é apenas mais uma opção e jamais poderá substituir a biópsia, que tem 90% de eficiência”, ressalta o pesquisador.

 

Os bastonetes roxos no centro da imagem são bacilos de Koch ( Mycobacterium tuberculosis ), que provocam a tuberculose

O estudo de Conde pode ajudar a tirar o Brasil da 15a posição entre os países mais atingidos pela doença, com cerca de 110 mil casos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Esse dado reflete as precárias condições sócio-econômicas da maior parte da população. A pobreza e a má alimentação favorecem o desenvolvimento do bacilo de Koch (agente infeccioso da doença) em organismos com baixa defesa. Por isso, a tuberculose é também a doença que mais mata portadores do HIV, já que seu sistema imunológico fica seriamente debilitado.

 

Desde 1998, o Brasil adotou a estratégia da OMS para erradicar a tuberculose, mas o projeto não apresentou bons resultados por falta de recursos. Ao menos no que se refere ao diagnóstico, a pesquisa de Marcus Conde pode ser útil ao programa da OMS. No entanto, a aplicação da técnica nas unidades de saúde do país só será feita após avaliação em outros centros. Por ora, o diagnóstico de Conde só está sendo adotado no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ.

Andreia Fanzeres
Ciência Hoje on-line
24/07/03