Desmatamento desigual

 

O desmatamento descontrolado na Amazônia brasileira é um problema grave, mas não acontece de forma uniforme na região. Um estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) analisou as diferenças no padrão de desmatamento entre os estados da Amazônia Legal nos anos de 2000 e 2004 e os impactos sobre o bem-estar da população da região. Os resultados indicam que a derrubada das matas acontece em ritmos variados e por motivos diferentes de um estado para o outro. 

A pesquisa apontou que os estados mais desmatados são os localizados ao sul da região, como Tocantins e Mato Grosso, principalmente por causa do avanço da agropecuária. Esses estados já não estão entre os que mais desmatam hoje, pois as áreas de florestas já estão bastante reduzidas. Os resultados do estudo foram apresentados na tese de doutorado do geógrafo Rodolfo Coelho Prates, defendida em junho no Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), vinculada à USP.

De acordo com Prates, entre os principais fatores que causam o desmatamento estão o crescimento populacional, a produção de madeira, o aumento da malha rodoviária, a expansão da agricultura e dos rebanhos, aumento do crédito rural, entre outros. O discurso sobre o desmatamento na Amazônia dá a entender que se trata de um processo homogêneo, o que acaba por esconder seus diferentes padrões.

“A diminuição da área de floresta não é causada pelos mesmos agentes nem acontece na mesma velocidade nos diferentes estados”, explica Prates. “É preciso conhecer bem as causas para realizar políticas mais eficazes de preservação.”

No estado do Amazonas, por exemplo, os fatores de maior impacto são a extração de madeira e a expansão do crédito rural, que estimula pequenos agricultores. Já no caso de Mato Grosso, o terceiro estado com maior média de desmatamento na Amazônia Legal no período analisado, as principais causas seriam o crescimento da população e o aumento do preço da soja, que estimula o aumento das grandes plantações. No entanto, nos últimos anos – que não foram levados em conta no estudo de Prates –, esse estado acabou assumindo a liderança no desmatamento da Amazônia.

Relação com o bem-estar
A pesquisa também estudou a relação entre as áreas desmatadas e o bem-estar da população local. De acordo com Prates, houve pequenas alterações no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de municípios da região, apesar da melhoria mais significativa da renda da população.

“O desmatamento possibilita um aumento da produção, que por sua vez gera mais renda para as populações locais”, comenta. “Dessa forma, há reflexos no bem-estar dos habitantes”. No entanto, o preço sócio-ambiental a se pagar por isso é caro, já que o desmatamento também compromete a biodiversidade amazônica, contribui para o aquecimento global e afeta o ciclo de chuvas na região, entre inúmeros outros impactos.

A pesquisa aponta que não seria necessária a incorporação de mais terras para promover melhorias na região, e sim o uso mais racional das áreas já disponíveis. Além disso, haveria outras alternativas para melhorar a qualidade de vida da população que não causariam o desmatamento.

“Amapá e Roraima são os estados que mais investem no setor de serviços, o que contribui para os altos índices de bem-estar da população”, afirma Prates. “E nesses estados, o desmatamento contribui muito pouco para o bem-estar da população local”.   

Igor Waltz
Especial para a CH On-line
02/09/2008