Desperdício desnecessário

 

Caminhão despeja lixo em aterro sanitário de Indaiatuba (SP). A cidade não apresenta um programa abrangente de coleta seletiva (fotos: Sandro Mancini).

Uma análise do lixo produzido em uma cidade do interior de São Paulo pode revelar o quadro do desperdício no Brasil. O projeto, realizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), concluiu que cerca de 90% do lixo direcionado a aterros sanitários poderia ser reutilizado e reciclado. Os resultados se referem apenas ao lixo gerado em Indaiatuba, cidade de 175 mil habitantes na região de Campinas, mas indicam um padrão que talvez se repita ema muitas cidades brasileiras que não apresentam programas abrangentes de coleta seletiva.

Apenas 10% do lixo analisado foi considerado não passível de ser reciclado – nesse conjunto, estão incluídas fraldas descartáveis, lixo de banheiro, pilhas e outros materiais capazes de causarem contaminação. A maior parte daquilo que era levado aos aterros sanitários poderia ainda ter vida útil, como metais, entulho, papel, vidro e vários tipos de plástico, entre outros.

Os pesquisadores analisaram durante um ano o lixo de caminhões vindos dos mais diversos pontos da cidade, desde bairros mais carentes aos de população com maior renda, totalizando cerca de 1.500 kg de lixo. Dessa forma, foi possível realizar uma análise sócio-econômica daquilo que era pesquisado.

Segundo Sandro Donnini Mancini, professor do curso de Engenharia Ambiental da Unesp em Sorocaba e responsável pelo projeto, enquanto os bairros de classe mais alta descartam, proporcionalmente, mais embalagens, os de baixa renda jogam fora mais comida, tecidos e calçados. “Esse comportamento provavelmente está relacionado aos níveis de escolaridade e de renda da população”, afirma.

Pesquisadora da Unesp separa amostras de lixo que chegam ao aterro sanitário. Foram analisados cerca de 1.500 kg de lixo.

Também foi possível realizar uma análise sazonal do lixo desperdiçado. Em meses de maior calor, por exemplo, aumenta a incidência de garrafas feitas de PET e de latas de alumínio que chegam ao aterro, devido ao aumento do consumo de refrigerantes.

Alta umidade
Cerca de 55% da massa total dos resíduos desperdiçados corresponde a matéria orgânica, principalmente comida e restos de jardim. Esse material, em vez de ser atirado em aterros, poderia passar por um processo de compostagem, isto é, uma série de técnicas para controlar sua decomposição e se obter um material rico em húmus e nutrientes minerais, aplicado como fertilizante.

Esse material orgânico apresenta alto teor de umidade. Experimentos indicam que são enterrados aproximadamente 38 mil litros de água por dia. Isso aumenta a produção de chorume, líquido poluente oriundo da decomposição do material, que pode contaminar lençóis freáticos e córregos. De acordo com Mancini, esse fator implica maiores gastos para o confinamento seguro dos resíduos, pois é preciso impermeabilizar o solo onde o lixo será depositado.

Mancini afirma que a coleta seletiva do lixo, aliada a programas de educação ambiental, poderia ser uma solução para melhorar a economia da região e resolver problemas ambientais. Segundo ele, a medida poderia devolver até 90% daquilo que é desperdiçado de volta ao ciclo produtivo. “Embora esse tipo de coleta seja mais caro, diminui gastos com aterros e aumenta sua vida útil, e ainda permite a geração de mais empregos”, comenta.

O pesquisador afirma que é necessário um esforço para incentivar a população a realizar mais doações. Durante as análises do lixo foram encontradas roupas e calçados em bom estado e, principalmente, comida que poderia ter sido doada antes de jogada fora. O estudo calculou que, só em Indaiatuba, são jogados fora aproximadamente 54 mil quilos de restos de comida por dia. 

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
15/02/2008