Dinossauro que viveu em Madagascar era canibal

Uma espécie canibal de dinossauro teria vivido nas planícies da ilha de Madagascar, na costa sudeste da África, de 65 a 70 milhões de anos atrás. Evidências indicam que o Majungatholus atopus , dinossauro bípede carnívoro de 9 metros de comprimento, alimentava-se não apenas de carcaças de saurópodes (dinossauros herbívoros de pescoço e cauda longos), mas também de seus próprios semelhantes. O artigo que relata a descoberta foi publicado em 3 de abril na revista Nature .

A equipe do geólogo Raymond Rogers, pesquisador do Macalester College (EUA), examinou ossos fossilizados e arcadas dentárias de Majungatholus encontrados entre restos de outros dinossauros, peixes, sapos, tartarugas, crocodilos, pássaros, cobras e mamíferos em diversos sítios paleontológicos da ilha.

Em um desses sítios, por exemplo, foi encontrado um crânio quase completo e a mandíbula de um único espécime de M. atopus , além de diversos ossos do resto de seu corpo. Pelo menos doze desses elementos — que incluíam uma costela, partes de vértebras e ossos que auxiliavam na sustentação do músculo da cauda — apresentavam marcas de dentes. Em outro sítio foram encontrados ossos desarticulados do crânio, o ílio (porção superior do osso da bacia) esquerdo e grande parte da coluna pré-caudal de um jovem Majungatholus . Os ossos desse indivíduo tinham sulcos visíveis causados por mordidas.

As marcas de dentes encontradas nos ossos de dois dos espécimes foram medidas. O tamanho dos dentes, o espaço entre eles, o ângulo e a profundidade das mordidas combinavam com a arcada dentária do M. atopus. Foi descartada a hipótese de as dentadas terem sido dadas por outros predadores que viveram em Madagascar na mesma época. Um outro dinossauro carnívoro, o Masiakasaurus knopfleri , era muito pequeno para provocar tais marcas. Também foram excluídos os grandes crocodilos Trematochampsa e Mahajangasuchus , porque seus dentes eram muito grossos, com espaçamento e orientação irregulares.

O estudo de três sítios diferentes mostrou que os Majungatholus se alimentavam de carcaças. Segundo Rogers, não há provas suficientes para dizer se eles matavam outros indivíduos de sua espécie ou apenas comiam seus restos. Porém, há bons indícios de que essa espécie viveu em tempos difíceis. No fim do período Cretáceo, Madagascar tinha um clima semi-árido. O meio ambiente sofria drásticas flutuações de recursos essenciais, como comida e água, o que aparentemente levou ao desaparecimento de diversas populações de animais.

Devorar as carcaças de seus próprios mortos pode ter sido a maneira encontrada por essa espécie para lidar com a severa carência nutricional. “Parece que o Majungatholus atopus explorou todos os recursos disponíveis durante os episódios de estresse ambiental, mesmo que isso significasse jantar membros de sua própria espécie”, diz Rogers.

Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
02/04/03