Representação artística da briga de dois Triceratops – répteis herbívoros que viveram no
final do Cretáceo, há pouco mais de 65 milhões de anos. A análise de crânios desses
dinossauros indica que seus chifres eram usados para combate
(arte: Lukas Panzarin / Museu de Paleontologia Raymond M. Alf).
O Triceratops, dinossauro herbívoro que viveu no fim do Cretáceo, é conhecido pelos vistosos chifres que adornam suas cabeças. No entanto, a função dessas estruturas ainda era motivo de polêmica entre os paleontólogos. Agora, a identificação de marcas de lesões em crânios desses dinossauros sugere que eles usavam seus chifres para combate e defesa, a exemplo dos veados e antílopes modernos.
Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada por paleontólogos americanos liderados por Andrew Farke, curador do Museu de Paleontologia Raymond M. Alf, na Califórnia (EUA). O estudo foi publicado esta semana na revista científica PLoS One.
Ao analisar os fósseis de Triceratops, os paleontólogos encontraram as lesões cranianas que indicam cicatrizes causadas por brigas entre membros da espécie. “Não sabemos, no entanto, o motivo dos combates”, explica Farke à CH On-line. “Assim como os animais modernos, os Triceratops provavelmente brigavam por território, comida e parceiros sexuais. Mas talvez nunca tenhamos certeza disso.”
A análise da equipe de Farke utilizou como base de comparação os fósseis de outra espécie de dinossauro da mesma família do Triceratops – o Centrosaurus. O grupo partiu da hipótese de que, se os ornamentos cranianos de ambas as espécies tivessem função apenas visual, não haveria diferenças entre as lesões encontradas nos fósseis.
O esquema representa crânios de Triceratops (no alto) e de Centrosaurus, com o osso escamosal em destaque. Foram encontradas dez vezes mais lesões nesse osso nos fósseis da primeira espécie, o que indica que esses répteis usavam seus chifres em combate (reprodução / PLoS One).
No entanto, a comparação de crânios das duas espécies mostrou que os Triceratops tinham dez vezes mais lesões no osso escamosal que os Centrosaurus (esse osso é uma parte formadora do folho – nome que os paleontólogos dão às estruturas similares a ‘babados’ acima da nuca do réptil). Para os pesquisadores, isso é uma evidência de que o Triceratops usava seus chifres para combate e defesa.
A hipótese de que as lesões seriam marcas de ferimentos causados por predadores foi descartada pelos pesquisadores. “Como os predadores dessas espécies estavam presentes nos hábitats de ambas, seria de se esperar que os ferimentos tivessem uma incidência minimamente próxima entre elas”, explica o paleontólogo.
Os pesquisadores têm duas hipóteses para explicar a ausência de lesões nos crânios do Centrosaurus, que têm um chifre nasal maior e dois menores acima dos olhos (o Triceratops tem um nasal pequeno e dois grandes acima dos olhos). “Ou os Centrosaurus concentravam seus ataques no flanco do oponente, ou utilizavam seus chifres e folho apenas para serem reconhecidos por outros membros da espécie e para outras funções visuais”, explica Farke.
Para ver ou para brigar?
A utilidade dos chifres e do folho dos Triceratops é um antigo dilema entre paleontólogos. Alguns deles sustentam que tais estruturas tinham função apenas visual, e não combativa. Eles afirmam que o Triceratops e outros dinossauros com chifres eram muito fracos para entrar em combate. Também se alega em favor dessa hipótese que esses répteis não tinham diferenças óbvias entre os sexos – não haveria, portanto, motivo para batalhas entre membros da mesma espécie.
A função combativa dos chifres também já havia sido proposta antes. No entanto, até agora as discussões sobre a finalidade dessas estruturas eram baseadas quase inteiramente em especulações. “Pelo rigor da nossa análise, acredito que esse estudo traga evidências para concluir que os Triceratops utilizavam seus chifres em combates com outros membros da espécie, embora isso não descarte a hipótese de eles serem utilizados também em outros casos”, defende Farke. “É um passo importante no entendimento da evolução comportamental desses animais.”
Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line
28/01/2009