Dispersor de sementes

O mico-leão-dourado é uma espécie de primata originária do Rio de Janeiro, encontrada hoje em apenas seis municípios. Ele consta da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente. (Foto: Marina Lapenta)

O mico-leão-dourado ( Leontopithecus rosalia ) tem excelente potencial para a dispersão de sementes dentro de seu hábitat. Graças a esse importante papel, a espécie contribui muito para a regeneração de áreas florestais desmatadas, como mostra estudo desenvolvido no Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP). Portanto, a destruição da mata atlântica significa não apenas perda de cobertura florestal, mas também a diminuição das chances de uma futura recuperação da área, devido ao prejuízo causado a esses primatas e a outros dispersores de sementes.

O alerta é feito pela bióloga Marina Lapenta, que desde 1998 busca compreender melhor a função dessa espécie no processo de germinação de sementes. O estudo foi tema de sua dissertação de mestrado defendida em 2002 no IB/USP. Em seu doutorado, que deve ser concluído ainda este ano na mesma instituição, a bióloga analisou em campo durante dois anos o comportamento alimentar do mico-leão-dourado, primata que se alimenta de 88 espécies de frutos.

Segundo Lapenta, a aptidão do mamífero para disseminar sementes pode ser explicada por suas características biológicas e fisiológicas. A espécie possui um curto tempo de digestão, de menos de duas horas. “Outros primatas podem levar até 20 horas”, compara. Por defecar muito, o mico colabora para a imensa dispersão das sementes. “Ele ingere grande quantidade e variedade de sementes, mastiga pouco – o que as mantém intactas – e as elimina o tempo todo”, explica. De estômago vazio, não demora até que volte a se alimentar de novo e o ciclo continua.

A contribuição do mico também se dá por meio de sua vocação para percorrer longas distâncias em um só dia. Se as sementes forem depositadas a uma distância de até 10 metros, as chances de encontrarem grande concorrência das outras árvores de sua espécie e não germinarem é grande. “Acompanhei a movimentação desses primatas e pude concluir que eles eliminam as sementes nos locais adequados para sua germinação, graças à forma como se locomovem em seu ambiente”, conta a pesquisadora.

Dentro do hábitat dos micos, outros animais, como os insetos, também colaboram para a dispersão de sementes. Lapenta investigou o destino daquelas que, após serem defecadas pelos micos, sumiam. A pesquisadora queria concluir se as sementes eram comidas por mamíferos ou simplesmente carregadas por invertebrados. “Posicionei sementes dentro e fora de gaiolas, que impediam o acesso de pequenos mamíferos. Como em ambos os casos as sementes sumiam, concluí que a maior parte delas era carregada por insetos”, explica a bióloga.

Enquanto a natureza se encarrega da distribuição das sementes e da regeneração da mata, o homem cumpre papel contrário. “O desmatamento para agricultura e criação de gado empobrece o hábitat dos micos e diminui as chances de regeneração natural”, avisa Lapenta.

Juliana Tinoco
Ciência Hoje On-line
08/11/2006