Os morcegos são responsáveis pela polinização de 13% das espécies de plantas da caatinga analisadas no estudo. (Reprodução / Taxon )
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) traz à tona um novo olhar sobre a caatinga. A fama de pouco rica e diversificada, graças ao clima semi-árido, à falta de chuvas e aos rios quase sempre secos, foi desmistificada pelas suas plantas. A pesquisa, que analisou os tipos de polinização presentes na região, provou que a caatinga é um ecossistema com alto índice de biodiversidade e profundas interações entre fauna e flora. O resultado ressalta a necessidade de sua proteção.
A botânica Isabel Cristina Machado, especialista em polinização em diversos ecossistemas e coordenadora do estudo, pesquisou durante dez anos 147 espécies de plantas de três municípios pernambucanos atrás de respostas sobre esses processos na caatinga. Por meio da avaliação de forma, tamanho, cor e presença de néctar e pólen das flores, foi possível indicar as síndromes de polinização de cada uma, ou seja, quais características se relacionam com qual tipo de polinizador.
“Mais de 50% das plantas da caatinga são fecundadas graças ao auxílio de algum animal. Ao contrário da expectativa, um número muito inferior produz frutos e sementes a partir de autofecundação”, diz Machado. “Isso significa que o grau de dependência é muito grande.” O estudo levou à conclusão de que as plantas da caatinga apresentam características semelhantes às dos ecossistemas úmidos. “As freqüências dos diversos vetores de polinização são similares nos vários ecossistemas, apesar das diferenças climáticas”, explica.
Machado percebeu uma incidência alta de polinização por beija-flores, abelhas e morcegos. Os primeiros são responsáveis por 15% do total e os segundos por 42%, números semelhantes aos encontrados em florestas úmidas. “13% das espécies analisadas possuem atributos de plantas polinizadas por morcegos, enquanto o percentual encontrado em outros ecossistemas é de 2 ou 3%”, revela a pesquisadora. As hipóteses para explicar esse fato vão desde a grande presença de cactos na caatinga, família com várias espécies comumente polinizadas por morcegos, até a existência de muitas cavernas, hábitat preferido do mamífero voador.
O resultado do estudo, publicado na revista Annals of Botany , apresenta informações básicas sobre a caatinga que podem auxiliar na elaboração de planos de proteção para a região. “Uma planta que apresenta autofecundação é menos frágil às alterações do ecossistema. Quando o nível de interação e dependência é alto, surge a maior necessidade de mantê-lo equilibrado”, afirma Machado. “Com a ajuda dos dados é possível estimar, por exemplo, áreas mínimas que devem ser preservadas para garantir a manutenção das espécies de plantas.”
Juliana Tinoco
Ciência Hoje On-line
05/10/2006