A dormideira ( Mimosa pudica ) contém substâncias que inibem a proliferação e eliminam a bactéria Streptococcus mutans , a principal responsável pelo aparecimento da cárie.
Provavelmente você já deve ter se divertido, na infância, com uma plantinha conhecida como dormideira, que se fecha com apenas um leve toque. Pois essa planta, que já entreteve muitas crianças, poderá um dia livrá-las da cárie dentária, graças à descoberta de um grupo de pesquisadores brasileiros do Laboratório de Ciências Químicas do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).
Como já propagava a medicina popular, a equipe comprovou que a planta Mimosa pudica (nome científico da dormideira) apresenta atividades antibacterianas. Ela contém substâncias que combatem a bactéria Streptococcus mutans , a principal responsável pelo aparecimento da cárie.
O químico Ivo José Curcino Vieira, um dos responsáveis pela pesquisa, explica que, na realidade, para combater as cáries, não é preciso exterminar totalmente essa bactéria, pois ela habita naturalmente a boca. “O interessante é inibir o seu crescimento por um tempo, para evitar que ela se multiplique além do necessário e provoque cáries.”
Para obter o extrato da planta, o grupo desenvolveu uma nova metodologia, cuja patente já foi requerida no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Em seguida, os pesquisadores testaram em culturas de S. mutans diferentes concentrações desse extrato e identificaram aquela que inibiu a proliferação e eliminou as bactérias. “Estamos apenas esperando o resultado desse pedido de patente para publicar o trabalho e seguir com a pesquisa”, diz Curcino.
Agora os objetivos da equipe são identificar exatamente as substâncias que exercem esse efeito antibacteriano, trabalho que deve estar completo até o ano que vem, e aplicar a descoberta na produção de algum produto de higiene bucal, como pastas de dentes ou líquidos de bochecho.
Porém, Curcino ressalta que, antes de os produtos resultantes dessas pesquisas estarem disponíveis no mercado, eles devem passar por testes para avaliar sua toxicidade e eficácia em humanos. “Esse processo costuma levar anos para ser finalizado”, afirma. “No entanto, se as indústrias do setor investirem nas pesquisas, esse tempo pode cair bastante.” Enquanto isso, sua equipe também pretende averiguar características semelhantes em outras espécies de plantas.
Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
19/12/2006