Duplo benefício

 

Se você é daqueles que lutam contra a balança, saiba que agora há mais um motivo para praticar exercícios. Além de promover o gasto de energia, a atividade física é capaz de diminuir a ingestão de alimentos por obesos.

É o que mostra uma pesquisa com ratos realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e apresentada na 24ª Reunião Anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), realizada de 19 a 22 de agosto em Águas de Lindoia (SP).

A descoberta é uma mudança de paradigma no que diz respeito à relação entre atividade física e obesidade. Até então, o exercício era visto somente como forma de promover o gasto de energia. O novo estudo, vinculado ao Instituto Nacional de Obesidade e Diabetes, mostra que o exercício tem um duplo benefício.

A obesidade, hoje considerada um problema de saúde mundial, provoca um processo de inflamação de baixa intensidade em uma região do cérebro chamada hipotálamo, que, entre outras funções, está envolvida no controle da saciedade.

Em um indivíduo saudável, o hipotálamo é sensível à ação dos hormônios insulina e leptina, que conseguem penetrar nesse tecido cerebral e aumentar a expressão de peptídeos (chamados anorexigênicos) que reduzem a ingestão de alimentos. Mas a inflamação faz com que o hipotálamo se torne resistente à ação da insulina e da leptina.

Uma forma de vencer essa resistência é o que descobriram o professor de educação física Eduardo Ropelle e seu orientador, o médico José Barreto, ambos do Laboratório de Investigação Clínica em Resistência à Insulina, da Unicamp.

O estudo feito por eles mostrou que a atividade física é capaz de reduzir a inflamação no hipotálamo de obesos e restaurar a sensibilidade dos neurônios dessa região à insulina e à leptina. Esse efeito contribui para a redução da ingestão alimentar e, consequentemente, do peso corporal. “Até hoje nenhuma terapia havia sido capaz de reverter a inflamação hipotalâmica”, comemora Ropelle.

Proteína anti-inflamatória

Para chegar a essa conclusão, a equipe submeteu 34 ratos magros e obesos a duas sessões de 3 horas de exercício com 45 minutos de intervalo entre elas. “Com apenas uma sessão de exercício, a ingestão alimentar dos ratos obesos foi reduzida aos níveis observados nos ratos magros”, conta Ropelle.

Segundo o pesquisador, esse fenômeno se deve à ação da proteína interleucina-6, produzida no hipotálamo em resposta ao exercício físico.

“Embora esta seja uma proteína inflamatória, dependendo do tecido do corpo, ela pode fazer a inflamação avançar ou reduzir”, explica Ropelle. No caso do hipotálamo, a interleucina-6 aumenta a produção de interleucina-10, que é uma proteína anti-inflamatória.

“O exercício é um modelo capaz de alterar localmente a interleucina-6”, explica o pesquisador. Para confirmar a ação dessa proteína, o grupo injetou-a no hipotálamo de ratos obesos e também observou a redução da ingestão alimentar. “A interleucina-6 mimetizou o efeito do exercício”, conclui Ropelle.

Não se iluda
Mas, se você não é muito chegado à atividade física e já está pensando na possibilidade de uma droga milagrosa que aumente a quantidade de interleucina-6 no hipotálamo, não se iluda. Ropelle esclarece que a proteína precisaria ser aumentada somente nessa região do cérebro – pois ela tem ação diferente em outros tecidos do corpo –, o que não é uma tarefa fácil.

Além disso, mesmo que a interleucina-6 pudesse ser direcionada ao hipotálamo, sua administração por via externa poderia afetar outras funções controladas por essa área cerebral, como a secreção de hormônios e a temperatura corporal. Portanto, mais do que nunca, o melhor remédio contra a obesidade é mesmo o exercício.  

Thaís Fernandes (*)
Ciência Hoje On-line
21/08/2009

(*) A jornalista viajou para Águas de Lindoia a convite da Fesbe.