Ecocardiograma aperfeiçoado

Com o objetivo de oferecer uma nova ferramenta a médicos e pacientes para a realização de diagnósticos rápidos e precisos de doenças cardíacas, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram um programa de computador capaz de fazer uma análise mais detalhada e imediata do coração. Esse método utiliza as imagens geradas pela ecocardiografia convencional e, por isso, não é invasivo, ao contrário do cateterismo, um exame caro e arriscado.

Imagem obtida por ecocardiografia convencional. O exame permite avaliar a estrutura e o funcionamento do coração a partir de imagens bidimensionais obtidas por ultra-som (foto: Kjetil Lenes).

O ecocardiograma permite avaliar a estrutura e o funcionamento do coração a partir de imagens bidimensionais obtidas por ultra-som (ondas sonoras de alta-freqüência). O método desenvolvido na UnB é capaz de identificar de forma automática nessas imagens parâmetros clínicos, como a área ou o volume do ventrículo esquerdo. Tradicionalmente, esses parâmetros só são obtidos pelo cardiologista por meio de cálculos aproximados.

“Escolhemos a cavidade do ventrículo esquerdo por ser a região do coração de onde sai o sangue oxigenado que circula pelo corpo. Assim, qualquer alteração em seu comportamento pode ser um indicativo de problema cardíaco”, esclarece o engenheiro mecânico Salvador Melo, que participou do desenvolvimento desse método em sua tese de doutorado para o Departamento de Engenharia Elétrica da UnB.

“Caso uma artéria esteja entupida, haverá variação do volume padrão do coração”, exemplifica Melo. “Isso quer dizer que alterações no volume do ventrículo esquerdo ao longo de um ciclo cardíaco, fora dos padrões esperados, podem indicar que o paciente tem algum problema cardíaco.”

O desenvolvimento do método teve ainda a participação de professores e alunos de pós-graduação do Departamento de Engenharia Elétrica e de professores da Faculdade de Medicina da UnB.

Praticidade e eficiência
O primeiro passo para a aplicação do método é a realização de um ecocardiograma convencional. Em seguida, essas imagens são processadas em computador, para melhorar a qualidade. Por fim, o programa identifica a área do coração e calcula seu volume.

“Com essa tecnologia, o pré-diagnóstico não precisa ser feito por um cardiologista. Basta que o programa seja operado por um técnico bem treinado, de modo a oferecer um laudo seguro e imediato”, destaca Melo. “Todavia, é importante deixar claro que o exame não substitui o médico. Uma vez identificado algum problema, o paciente deve ser imediatamente encaminhado para um especialista”, atenta.

De acordo com o pesquisador, ainda existem lugares no Brasil com grande carência de cardiologistas, como a região Norte. Estados como Amapá e Rondônia, por exemplo, contam apenas com dez profissionais para atender a toda a população. “Nosso método possibilita a essas pessoas o acesso a exames cardíacos e, assim, a chance de se submeterem a tratamentos adequados, em caso de alguma enfermidade”, justifica.

O programa ainda se encontra em fases de testes e aperfeiçoamento, pois o protocolo para a comercialização desse tipo de produto voltado para a área de saúde é longo e bastante rigoroso. “De acordo com o andamento de nossas pesquisas, acreditamos que, dentro de aproximadamente três anos, o programa já possa ser usado em todo país”, prevê Melo.

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
10/04/2008