Em busca de alternativas contra a asma

Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, sintetizaram duas moléculas que podem se converter no futuro em novas drogas para a asma, doença crônica que vem atingindo cada vez mais pessoas no Brasil e no mundo. Derivadas da lidocaína, um anestésico local, as moléculas prometem diminuir a inflamação das vias aéreas decorrente das crises alérgicas, sem apresentar os efeitos colaterais dos medicamentos mais usados atualmente.

Codificadas como JM24-1 e JMF2-1, as moléculas foram elaboradas no Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fiocruz e devem ser patenteadas. Em testes com animais, as duas moléculas apresentaram os resultados mais satisfatórios dentro de um total de 25 compostos sintetizados pelos cientistas. Segundo o biólogo Marco Aurélio Martins, coordenador do projeto, JM24-1 e JMF2-1 contêm as propriedades antiinflamatória e espasmolítica da lidocaína, mas apresentam menos ação anestésica, que parece ser responsável por suas reações adversas.
 
A lidocaína não é difundida como tratamento para a asma. Os medicamentos antiasmáticos mais utilizados pertencem à classe dos hormônios corticóides, que, apesar de eficazes, provocam em alguns pacientes manifestações graves como diabetes, desmineralização óssea, glaucoma e hipertensão, entre outras.
 
O potencial do anestésico para controlar a asma foi descoberto por acaso em 1995, nos Estados Unidos. Testes realizados em humanos indicaram que a lidocaína em aerossol alivia sintomas como a falta de ar, ao reverter o estreitamento das vias aéreas. Entretanto, também foram registrados os efeitos colaterais do tratamento: sensação de claustrofobia, controle involuntário da respiração e casos de convulsão.
 
E m busca de uma explicação para essas reações, a equipe brasileira realizou experimentos com ratos asmáticos, tratados unicamente com a lidocaína ou com as moléculas sintetizadas em Farmanguinhos – com menor ação anestésica. Por meio de análises de células inflamatórias, da inflamação dos pulmões e da função respiratória dos roedores, os pesquisadores concluíram que as ações benéficas independem da atividade anestésica local: “as moléculas induzem relaxamento da musculatura lisa das vias aéreas”, resume Martins.

A lidocaína vem sendo utilizada como anestésico local em procedimentos cirúrgicos e exames invasivos desde a década de 1940. Em 1995, médicos norte-americanos submeteram pacientes asmáticos à broncoscopia (exame que coleta material da traquéia e dos brônquios) e para isso, anestesiaram-nos com a substância. Nesses indivíduos, constatou-se que o número de eosinófilos era significativamente menor, o que representaria uma atenuação das crises alérgicas. A partir de então, a lidocaína começou a ser estudada como alternativa para tratar a asma.

Eles também foram capazes de demonstrar como as substâncias reduzem a inflamação dos brônquios, ao provocar uma diminuição na quantidade de eosinófilos – células que liberam substâncias tóxicas e que se encontram em grande quantidade no sangue dos asmáticos. Ainda assim, o estudo dos análogos à lidocaína continua: “nossa intenção agora é avaliar a toxicidade das novas moléculas em estudos in vivo e in vitro , antes que possam ser testadas em humanos”, prevê Martins.


Lia Brum

Ciência Hoje On-line
10/08/05