Fazer objetos levitarem, tocar e mixar músicas ou simplesmente acender ou apagar luzes sem apertar qualquer botão: possibilidades antes restritas à ficção que, aos poucos, vêm ganhando forma no mundo real. Uma série de equipamentos desenvolvidos no Brasil promete revolucionar – e, quem sabe, deixar mais ‘estiloso’ – o campo do comando remoto. As novidades vão desde dispositivos como unhas e cílios até maquiagens eletrônicas capazes de controlar os mecanismos à sua volta.
Os aparatos são parte do projeto Beauty Technology, desenvolvido pela cientista computacional Katia Vega em seu doutorado em informática na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). A ideia é que os equipamentos criados possam ser aplicados em uma ampla gama de situações, desde performances artísticas até o dia a dia de deficientes.
Um dos produtos da linha, por exemplo, são cílios quimicamente metalizados capazes de ativar diversos comandos. Cada piscada de olhos de pelo menos quinhentos milissegundos funciona como um interruptor: envia sinais por meio de um adesivo condutor (semelhante a um delineador) até um circuito que pode estar escondido em uma peruca e que os transmite para um controle remoto guardado em um bolso da roupa.
“Com o sistema, é possível ligar a luz, abrir uma porta, fazer um objeto voar”, enumera Vega. “Uma artista pode usar, por exemplo, para controlar imagens exibidas em telas durante uma performance”, cogita.
Além dos cílios, a pesquisadora também desenvolveu o AquaDJing, que permite a um DJ comandar a pista de dança utilizando unhas eletrônicas: com a mão direita, ele controla faixas musicais e, com a esquerda, os efeitos sonoros. “É como se houvesse um Riocard em cada uma das unhas. Quando você as aproxima de um leitor, que pode ficar até mesmo sob recipientes com água ou areia para dar um visual diferente, ele emitirá sinais para um computador que tocará as músicas”, explica.
Confira uma performance da DJ Maribel Tafur com o AquaDJing
O FX e-makeup, outro projeto desenvolvido por Vega, consiste em pequenos sensores ligados aos olhos e fixados por um material discreto transparente. O dispositivo transforma o rosto humano em um controle remoto vivo: movimentos específicos dos músculos da face enviam sinais para um cordão-receptor no pescoço do usuário, que pode comandar vários objetos.
O aparato poderia ser usado, inclusive, para possibilitar a interação de tetraplégicos com o ambiente – o modelo Winkymote, desenhado para esse caso específico, possibilita a realização de tarefas como ligar a TV ou mudar os canais com simples movimentos faciais.
Nenhum produto do projeto Beauty Technology está sendo comercializado por enquanto, mas a pesquisadora diz que a proposta de tentar transformar o corpo humano em uma plataforma interativa já tem interessado empresas e artistas.
“É uma tecnologia que podemos vestir sem nos parecermos com ciborgues”, acredita Vega. “Quando a tecnologia é visível demais, acaba desumanizando, causando um estranhamento.” No futuro, ela acredita que os projetos possam explorar recursos de internet e de aparelhos móveis. “A Beauty Technology é só um começo e as aplicações futuras podem ser infinitas”, completa.
Isabelle Carvalho
Ciência Hoje On-line