Embalagens enganosas

O estudo da UnB concluiu que uma em cada cinco embalagens de produtos alimentícios à venda nos supermercados do Distrito Federal podem induzir o consumidor ao erro.

Mensagens em rótulos de produtos alimentícios prometem o impossível na guerra da publicidade. Isso é o que constatou uma pesquisa feita por nutricionistas da Universidade de Brasília (UnB), que analisaram imagens, símbolos e textos em rótulos de alimentos, em busca de informações falsas ou enganosas. Os cientistas verificaram que 19% das embalagens não são totalmente verdadeiras ou podem induzir o consumidor a erro.

Durante o estudo, pesquisadores do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da UnB analisaram 1.789 rótulos de produtos de grandes e pequenas indústrias comercializados em supermercados do Distrito Federal. “Procuramos encontrar contradições comparando os textos e as imagens dos rótulos com a composição nutricional e os ingredientes descritos”, explica uma das nutricionistas do projeto, Naíra Domingos Sé.

A partir dessa análise, os rótulos foram encaixados em três grupos: com mensagens verdadeiras; com mensagens verdadeiras, mas enganosas; e com mensagens falsas. Como critério para essa classificação, os pesquisadores basearam-se na Resolução RDC n° 259, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por regular a rotulagem de alimentos embalados, e no Codex Alimentarius, um fórum internacional que emite normas sobre alimentos para proteger a saúde da população. Esse fórum reúne a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) e serve de referência para a elaboração e a atualização da regulamentação nacional de alimentos.

Dos rótulos analisados, 81% foram classificados como verdadeiros; 12% como verdadeiros, mas enganosos; e 7% – o que equivale a 125 rótulos – como falsos. Naíra cita um exemplo de mensagem irreal: um rótulo de goiabada com a frase “pura fruta”, já que, além da fruta, o produto contém açúcar, conservantes e outros ingredientes. Outro exemplo é o pacote de um salgadinho industrializado com a inscrição “100% natural”, quando, na verdade, trata-se de um produto bastante processado quimicamente, acrescido de conservantes e outros aditivos.

As imagens de frutas presentes nas embalagens de pirulitos, gelatinas, balas e sucos em pó também podem enganar o consumidor. “Elas podem induzir as pessoas a pensar que o produto tem polpa de fruta, enquanto seus ingredientes incluem apenas sabor ou aroma artificial”, alega Naíra.

Cautela na hora da compra pode ser uma boa ferramenta para se proteger das falsas promessas. A dica dos nutricionistas da UnB é que o consumidor leia os rótulos inteiros, inclusive a lista de ingredientes, compare os alimentos e não se deixe levar por embalagens coloridas e frases de efeito.

Um relatório com os resultados da pesquisa foi enviado à Anvisa no início deste ano. Até agora, o documento ainda não chegou às mãos da Gerência de Inspeção de Alimentos do órgão. Antes de ser punida, a indústria que estiver desrespeitando as leis de proteção ao consumidor será notificada para que faça as modificações necessárias. “A legislação brasileira é bem recente e atualizada”, diz Naíra. “No entanto, o conceito de ‘enganoso’ é muito subjetivo, o que pode prejudicar a aplicação da norma”, alerta.

Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
25/07/2006