Encontrado o mais antigo saurópode conhecido

Fósseis descobertos na África do Sul prometem mudar a forma como os paleontólogos concebem a evolução dos dinossauros. Eles pertencem ao mais antigo saurópode conhecido — saurópodes eram dinossauros herbívoros, quadrúpedes e dotados de pescoço e cauda longos, como o diplodoco ou o braquiossauro. A nova espécie viveu no fim do período Triássico, há cerca de 225 milhões de anos.

Esquema reconstitui a silhueta da nova espécie de saurópode a partir dos fósseis encontrados na África do Sul (reprodução/ Proceedings B )

Os fósseis haviam sido descobertos em 1981 por James Kitching, da Universidade de Witwatersrand (África do Sul). Recentemente, eles foram encontrados nas coleções dessa universidade por Adam Yates, da Universidade de Bristol (Inglaterra). Os dois paleontólogos fizeram a análise dos ossos, publicada em junho na revista britânica Proceedings B , da Royal Society.

A evolução dos saurópodes é pouco conhecida: os poucos fósseis encontrados não trazem muitas pistas sobre como se desenvolveram algumas características dos maiores animais terrestres que já existiram. Também não se sabe muito sobre a relação entre saurópodes e o grupo de antigos dinossauros que os teria precedido — os prossaurópodes. Pensava-se que esse grupo tivesse surgido muito antes dos primeiros saurópodes, o que implicava um longo período de evolução desconhecida.

 

Gondwanatitan faustoi , saurópode encontrado no Brasil há 80 milhões de anos que media cerca de 8 metros e pesava cerca de 4 toneladas (imagem: Museu Nacional/UFRJ)v

O novo saurópode, batizado de Antetonitrus ingenipes , lança uma nova luz sobre a questão: seus fósseis foram encontrados entre rochas de idade semelhante à dos primeiros prossaurópodes, o que levanta a hipótese de os dois grupos terem surgido no mesmo tempo.

 

“Detalhes anatômicos, como o tamanho relativo do úmero comparado ao fêmur e a presença de lâminas ósseas nas vértebras dorsais, levaram os pesquisadores a classificar o novo dinossauro como saurópode”, explica Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Para classificar os animais, procura-se estabelecer seu grau de parentesco a partir de características únicas de cada grupo.”

Os ossos encontrados estavam desarticulados, mas muito próximos uns dos outros. Acredita-se que pertenceram a um só animal, já que não se repetem. Também foram encontrados alguns ossos de um outro espécime, menores que os do esqueleto mais completo.

Com 1,8 toneladas e quase dez metros de altura, o Antetonitrus era pequeno para um saurópode — o diplodoco, por exemplo, chegava a 27 metros. Chamou a atenção dos paleontólogos a estrutura de seus membros anteriores. Embora fosse quadrúpede, ele era capaz de realizar movimentos de rotação entre a mão e o antebraço e provavelmente podia segurar objetos com as patas dianteiras — característica nunca observada em um saurópode. Por isso, os cientistas acreditam que a nova espécie é um intermediário entre os gigantes saurópodes e seus ancestrais, menores e bípedes.

Embora soe esquisito, a trajetória evolutiva de alguns dinossauros de fato foi marcada pela transição de animais bípedes para quadrúpedes. “Os pré ou protodinossauros eram bípedes”, explica Kellner. “Muitos começaram a sofrer adaptações para se tornarem quadrúpedes e alguns de fato se tornaram. O Antetonitrus era semiquadrúpede, o que pode ser considerado um estágio intermediário.”

Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
22/07/03