Encontrados metais pesados na chuva em Campinas

 

A água da chuva costuma ser considerada limpa, pois é naturalmente destilada no ciclo de evaporação e precipitação. No entanto, uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que ela pode conter metais pesados. A análise de amostras da água de chuva da cidade encontrou, entre outros metais, cromo, níquel, chumbo, zinco e vanádio. Dos metais encontrados, os mais tóxicos são cromo e níquel. Ambos provocam dermatites e infecções respiratórias.

Vista geral do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, onde foram feitas análises da água de chuva

Os metais são derivados, sobretudo, da emissão industrial e, em menor escala, dos veículos de transporte. “Partículas dos metais ficam em suspensão na baixa atmosfera e são ‘lavadas’ pela chuva, ou seja, são carregadas junto à precipitação”, explica a especialista em recursos hídricos Silvana Moreira, coordenadora da pesquisa.

Iniciado em 1998, o estudo analisou amostras de água da chuva fornecidas pela distribuidora de água de Campinas (Sanasa), coletadas em três áreas de captação de água de abastecimento da cidade, além de um ponto de controle. Também foram coletadas amostras de água natural — água do rio, antes do tratamento — e água tratada.

Foi feita a análise do pH das amostras. O resultado encontrado foi considerado normal para chuvas na região tropical: neutro com leve tendência a ácido (entre 5 e 6). Para a identificação dos metais foi utilizada a técnica da fluorescência de raios-X. O procedimento, realizado no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, permite detectar níveis muito baixos de poluentes, identificar vários elementos químicos ao mesmo tempo e até distinguir espécies de um mesmo elemento químico, como o cromo III e o cromo VI, que têm toxicidade diversa (o cromo VI é mais tóxico). “A técnica se baseia na emissão de fótons: cada elemento emite raios-X com energia específica”, explica Silvana.

Foram encontrados níquel, cromo, cobre e zinco na água das chuvas. Nos pontos de captação para abastecimento, nos rios, foram identificados cromo, cobalto, cobre, níquel, zinco e chumbo. “Felizmente o nível dessas substâncias não ultrapassava o padrão estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente”, diz Silvana. “Na água tratada não foram encontrados metais pesados, o que indica que o processo de tratamento retira os contaminantes de modo eficiente.”

O estudo foi complementado por outra pesquisa, que estudou amostras do material particulado em suspensão no ar. As amostras foram coletadas no centro de Campinas e na Unicamp, que é cercada por áreas agrícolas e de baixa urbanização. Para surpresa dos pesquisadores, os dois pontos apresentavam concentrações muito parecidas de poluentes de origem industrial (chumbo, cobre e níquel) e veicular (vanádio), além de metais de origem natural, presentes no solo (titânio, ferro, alumínio e silício). “Esses resultados indicam que as substâncias provenientes da emissão industrial são carregadas por centenas de quilômetros”, conclui Silvana.

Os metais

A maioria dos organismos vivos só precisa de algunspoucos metais e em doses muito pequenas. Tão pequenas que costumamoschamá-los de micronutrientes, como é o caso do zinco, do magnésio, docobalto e do ferro (constituinte da hemoglobina). Esses metaistornam-se tóxicos e perigosos para a saúde humana quando ultrapassamdeterminadas concentrações-limite.

Já chumbo, mercúrio, cádmio,cromo e arsênio são metais que não existem naturalmente em nenhumorganismo. Tampouco desempenham funções nutricionais ou bioquímicas emmicroorganismos, plantas ou animais. Ou seja: a presença desses metaisem organismos vivos é prejudicial em qualquer concentração. Desde que ohomem descobriu a metalurgia, a produção desses metais aumentou e seusefeitos tóxicos geraram problemas de saúde permanentes, tanto paraseres humanos como para o ecossistema.

Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
27/03/03