Escavações em Jaguaribe

Como os engenhos de açúcar funcionavam no período colonial em Pernambuco? Qual era sua configuração arquitetônica? Com essas perguntas em mente, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) decidiu estudar um engenho bem peculiar, na antiga Sesmaria Jaguaribe, localizada hoje nos municípios de Abreu e Lima, Paulista e Igarassu. O chamado engenho Jaguaribe funcionou do século 16 até meados do 19. Voltado para a produção de cal e de bens de subsistência para a manutenção do mosteiro, Jaguaribe é um dos cinco primeiros engenhos instalados na Capitania de Pernambuco e o único que não foi fortemente atingido pela expansão urbana.

Liderado pelos arqueólogos Cláudia Oliveira, da UFPE, e Pedro Jiménez Lara, da Universidade Veracruzana, do México, o grupo vem fazendo escavações na região – onde também existia a Fazenda de São Bento de Jaguaribe, administrada por monges beneditinos – desde 2015 e já arrisca algumas hipóteses para explicar como se deu a ocupação do local, como funcionava o comércio de açúcar na época e quais as características arquitetônicas do engenho.


Estrutura de parede da sacristia com pintura vermelha no rodapé. (foto: Cláudia Oliveira)

As primeiras pesquisas foram realizadas na área da capela da fazenda. Suas estruturas apresentam semelhanças com a primeira igreja instalada na Vila Igarassu, em 1535, consagrada aos santos Cosme e Damião.

Botão militar brasileiro do século 19, em metal
amarelo, com um aro, para fixação, que
apresenta o símbolo da artilharia em relevo:
granada em chamas, e o número 4 no interior.
(foto: Cláudia Oliveira)

“Além do material de construção usado em diversos períodos, foram identificados vários vestígios arqueológicos que indicam os hábitos dos moradores desde o século 16 até o século 20”, comenta Cláudia Oliveira. “São fragmentos de faianças, uma aliança, moedas, botões, vidros de diferentes objetos – garrafas, frascos medicinais, perfumes etc. –, além de restos alimentares, como ossos bovinos e pedaços de crustáceos e moluscos provenientes do mar ou dos rios da área.”

Segundo a pesquisadora, a faiança fina corresponde a um conjunto variado de técnicas e motivos decorativos – florais e geométricos – típicos dos séculos 18 e 19. Já as estruturas encontradas apresentam dimensões surpreendentes. “Esperávamos encontrar estruturas mais simples e menores, como nos primeiros engenhos”, conta Oliveira.

Os pesquisadores acreditam que a análise dos vestígios arqueológicos permitirá reconstituir aspectos sociais, econômicos e ideológicos das sociedades da região em diferentes períodos. “Poderemos descrever os hábitos dos moradores e suas escolhas técnicas e identificar, inclusive, fatos que não foram narrados pela história oficial”, aposta a arqueóloga. Ela imagina ser possível ainda revelar as estruturas das senzalas e do cemitério, trazendo dados sobre a escravidão e a morte dos habitantes da região.

 

Alicia Ivanissevich
Instituto Ciência Hoje | RJ