Estratégia contra o pneumococo

 

Streptococcus pneumoniae , bactéria que causa pneumonia, meningite, infecção de ouvido (otite) e infecção generalizada (septicemia), em imagem de micrografia eletrônica de varredura. (Foto: CDC/ Janice Carr).

Cerca de 18 mil crianças com menos de cinco anos morrem a cada ano na América Latina – aproximadamente duas por hora – vítimas da pneumonia causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae , o pneumococo. No mundo, esse número chega a um milhão, dos quais 90% estão em países em desenvolvimento. A carga econômica e social imposta às nações latino-americanas por esse microrganismo, que também causa meningite, infecção de ouvido (otite) e infecção generalizada (septicemia), é extremamente alta e fica em torno de US$ 293 milhões, com mais US$ 40 milhões que recaem sobre as famílias. Tudo isso pode ser evitado com o uso da vacina contra o pneumococo, empregada desde 2000 nos Estados Unidos e que diminuiu significativamente os casos da doença.

Essas são as conclusões de um estudo sobre o impacto da bactéria e sua extensão na América Latina, cujos resultados foram apresentados hoje no Segundo Simpósio Regional sobre Pneumococia, realizado em São Paulo (SP). Coordenado pelo Instituto de Vacinas Albert Sabin, em Washington D.C. (Estados Unidos), o trabalho foi feito ao longo do ano e consistiu em uma revisão da literatura científica, tanto de revistas quanto de congressos, e em entrevistas com cientistas e profissionais de saúde. A partir desses dados, foram realizadas modelagens de vários cenários.

“Esta é a primeira vez que se revisa a situação latino-americana”, afirma o médico brasileiro Ciro de Quadros, diretor do Instituto de Vacinas Albert Sabin. Para ele, o estudo e o simpósio são de extrema relevância e servirão para aumentar a vigilância epidemiológica em relação à pneumococia e para estimular a realização de levantamentos individuais em cada país. “O trabalho permite também a negociação entre os governos e os fabricantes de vacinas para facilitar o acesso a elas”, acrescenta Quadros.

Produzida por um laboratório estrangeiro, a vacina contra o pneumococo cobre sete variedades (serotipos) da bactéria, que são responsáveis por aproximadamente 64% dos casos de doença pneumocócica na América Latina. Ela poderia salvar 9.478 crianças a cada ano e prevenir 678 mil casos de otite, 176 mil casos de pneumonia, 2,1 mil casos de septicemia e 660 casos de meningite. Outra vantagem é poder ser aplicada em crianças de até um ano de vida, nas quais o risco de infecção é muito maior.

Atualmente, uma dose da vacina custa US$ 53 e são necessárias três doses para a completa imunização. Mas Quadros acredita que, com as negociações geradas pelo estudo, o preço possa se tornar mais competitivo para os países em desenvolvimento. “O uso da vacina tem um efeito cascata, pois, ao se imunizar as crianças, os adultos, que costumam contrair a doença dos menores, também são protegidos”, esclarece o médico.

Quadros explica que o estudo é uma maneira de diminuir a iniqüidade causada pelas novas tecnologias. “Novas vacinas são mais caras e não são logo introduzidas. Mas é preciso que essa introdução seja feita de forma sustentável, ou seja, como resultado da aliança entre vários setores e com suporte da legislação local”, conclui.

Fred Furtado
Especial para Ciência Hoje On-line
13/12/2006