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Os telescópios espaciais Spitzer e Hubble, dois dos mais importantes da Nasa, forneceram aos astrônomos imagens sem precedentes de “entulho planetário” na órbita de estrelas de tamanho próximo ao do Sol. De acordo com os pesquisadores, essas imagens são instantâneos de um dos possíveis cenários para o processo de formação da Terra.

Representação artística do disco chato composto por nuvem de gás e poeira em órbita de uma estrela. Esse “entulho cósmico” é a matéria-prima dos planetas (arte: Nasa/JPL-Caltech/T. Pyle/ssc)

Esse entulho cósmico é resultado do processo de formação das estrelas. Quando uma delas surge do colapso de uma nuvem de gás e poeira, restos desse material formam ao seu redor um disco chato onde passam a orbitar partículas de poeira e gases. Essas partículas colidem e aderem umas às outras até que, eventualmente, um planeta rochoso se forma. Às vezes os corpos celestes que resultam desse acúmulo de partículas de poeira espacial se chocam e se despedaçam.

 

As observações realizadas pelo telescópio espacial Spitzer permitiram o registro inédito de discos de poeira ao redor de estrelas maduras, onde pode ser freqüente a existência de planetas. Já o telescópio Hubble registrou a mais detalhada imagem já obtida de um disco circundando uma estrela menor e mais jovem. Jovens estrelas têm reservatórios de material para construção de planetas – o gás e a poeira que formam os discos. Estrelas mais velhas, por sua vez, têm apenas sobras dessa “matéria prima estelar”, uma vez que o gás e a poeira, com o correr do tempo, se dissipam ou se condensam em algum tipo de estrutura. Pode-se dizer que o Spitzer registrou o reservatório e o Hubble, as sobras.

 

Imagem de um disco de poeira e gás ao redor de uma estrela a 88 anos-luz da Terra, registrada pelo telescópio Hubble (foto: Nasa/ESA/JHU/ACS)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Até as recentes observações, esses discos de “entulho” planetário raramente haviam sido documentados. Eles têm pouco brilho e são menos visíveis do que aqueles que se formam ao redor de estrelas de maior massa.

 

A estrela jovem observada pelo Hubble tem entre 50 e 250 milhões de anos. Isso quer dizer que ela é velha o bastante para ter planetas gasosos e suficientemente jovem para que planetas rochosos, como a Terra, ainda estejam se formando ao seu redor. As estrelas estudadas pelo Spitzer, por sua vez, têm idade média de 4 bilhões de anos, mais ou menos a mesma idade do Sol. O entorno de estrelas dessa idade costuma abrigar planetas gasosos e há possibilidade de que haja planetas rochosos.

 

O Spitzer descobriu a primeira relação entre discos de “entulho” e os planetas e agora os pesquisadores poderão estudá-la. Esses estudos facilitarão futuras tentativas de descobrir novos planetas, uma das principais metas da Nasa.

Tiago Carvalho
Ciência Hoje On-line
15/12/04