A rede , tela de 1844 do pintor francês Gustave Courbet (1819-1877).
Tirar aquele cochilo depois do almoço pode fazer bem para seu coração. Isso é o que indica um estudo feito na Grécia, país no qual essa é uma prática muito comum. A pesquisa acompanhou 23 mil indivíduos ao longo de seis anos e constatou que, entre aqueles que costumavam fazer a sesta, ainda que só ocasionalmente, a mortalidade por doenças coronarianas foi 34% menor. Segundo os autores, esse hábito ajuda a diminuir o estresse, o que explicaria seu efeito benéfico.
Não é de hoje que os cientistas tentam avaliar o efeito da sesta sobre a saúde – países do Mediterrâneo ou da América Latina em que esse hábito é freqüente registram taxas reduzidas de mortalidade por doenças coronarianas. Alguns estudos feitos anteriormente chegaram a concluir que esse hábito poderia ser prejudicial. No entanto, essas pesquisas não haviam levado em conta a prática de atividade física e outros fatores associados ao risco de doenças coronarianas.
O estudo liderado por Dimitrios Trichopoulous, da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard (EUA), foi o primeiro levantamento abrangente a considerar variáveis como essa. Publicada esta semana na revista Archives of Internal Medicine , a pesquisa acompanhou 23.681 participantes gregos de um censo europeu sobre câncer e nutrição. Eles tinham entre 20 e 86 anos, eram sadios e não tinham histórico de doenças coronarianas, câncer ou derrame. Os participantes responderam a um questionário detalhado sobre o estilo de vida, a dieta e o histórico de doenças – além, claro, do hábito de cochilar após o almoço.
Os resultados mostram que, entre aqueles que praticavam a sesta, com qualquer freqüência ou duração, a taxa de mortalidade por doenças coronarianas foi 34% menor do que entre aqueles que não cultivavam esse hábito. Entre os participantes que tiravam cochilos pelo menos três vezes por semana com uma duração mínima de 30 minutos, a redução chegou a 37%. Mesmo entre aqueles que faziam a sesta apenas ocasionalmente, foi verificada uma redução de 12%.
Na Grécia, onde o estudo foi feito, a sesta é um hábito freqüente. Vários estabelecimentos fecham as portas no início da tarde, como mostram os cartazes acima, de consultórios médico e odontológico.
A associação entre sesta e menor mortalidade por doenças coronarianas foi mais acentuada entre os homens, especialmente entre aqueles que trabalhavam regularmente durante o acompanhamento. O pequeno número de mortes por doenças coronarianas entre as mulheres participantes do estudo não permitiu que se tirassem conclusões estatisticamente significativas.
São os hormônios
Os autores do estudo atribuem o efeito benéfico da sesta a suas propriedades antiestressantes, embora ainda não estejam certos de como essa ação se traduz no plano metabólico. “O sono noturno afeta várias funções do corpo humano, inclusive os níveis de vários hormônios”, explicou Trichopoulos à CH On-line . ”A sesta é um sono em menor escala e seria razoável supor que ela possa funcionar da mesma forma.”
Questionado sobre se os resultados deveriam estimular os adultos saudáveis a adquirir o hábito da sesta para prevenir doenças coronarianas, o médico grego manda seguir em frente. “Faça a sesta se for possível: é agradável e não é nocivo à saúde, desde que não comprometa a atividade física”, avaliza. “Se nossos resultados se confirmarem, talvez mudanças no estilo de vida tenham que ser consideradas.”
Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
12/02/2007