Falta proteção adequada aos animais ameaçados

 

      

As regiões de ocorrência dos animais ameaçados de extinção não correspondem às áreas sob proteção nas reservas e parques do planeta. Por conta dessa discrepância, cerca de 800 espécies correm o risco de desaparecer. A constatação parte de um estudo coordenado pela Conservation International (CI), organização não-governamental em prol da preservação da biodiversidade, e alerta para a necessidade de se reformularem as estratégias de proteção. A pesquisa concluiu, ainda, que a medida é mais urgente em regiões de florestas tropicais úmidas, sobretudo em zonas montanhosas e ilhas.

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A perereca Phyllomedusa ayeaye é uma das espécies ameaçadas que não estão protegidas (fotos: Conservation International)

Para embasar a necessidade de um novo projeto de preservação, a CI elaborou uma análise das lacunas de conservação no planeta. O estudo, publicado em 8 de abril na revista Nature , sobrepôs o mapa das áreas protegidas em todos os países aos mapas de distribuição de diferentes espécies (todos os anfíbios, mamíferos e tartarugas terrestres e de água doce do mundo, além das aves globalmente ameaçadas).

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A conclusão é alarmante: estão sem proteção 149 espécies de mamíferos, 411 de anfíbios, 232 de aves e 12 de tartarugas ameaçadas de extinção. Entre os animais em risco, encontram-se um dos morcegos mais raros do mundo, o Pteropus livingstonii (foto), que habita apenas algumas ilhas do Oceano Pacífico, e o jabuti Geochelone platynota , cuja população vem sendo dizimada na Ásia.

O plano atual de preservação foi traçado no 4o Congresso Mundial de Parques, em 1992, na Venezuela. Esse encontro reuniu 2.500 especialistas de vários países e teve como principal conclusão o Plano de Ação de Caracas, documento que estabeleceu como meta a expansão da rede mundial de áreas protegidas para pelo menos 10% de cada bioma.

Segundo Ana Rodrigues, pesquisadora portuguesa da CI e uma das autoras do artigo da Nature , essa resolução foi muito importante em algumas regiões, porque representou um forte incentivo para ampliar a rede de áreas protegidas, mas ainda é insuficiente. “A meta de 10% é completamente arbitrária e assume que a biodiversidade está distribuída igualmente por todo o mundo”, explicou à CH On-line.

Como algumas regiões possuem uma quantidade maior de espécies, não há uma meta única que atenda às necessidades de todos os países. Segundo Ana, regiões com maior diversidade necessitam de mais investimento.

A pesquisadora adverte, ainda, que interesses político-econômicos muitas vezes passam por cima da questão ambiental. “Muitos países incluem nas reservas as áreas que ninguém quer (topos de montanhas, zonas desérticas, áreas de gelo etc.), mas que não são necessariamente as mais importantes para a biodiversidade.”

O relatório da CI foi inicialmente elaborado para 5o Congresso Mundial de Parques, que aconteceu em 2003 na África do Sul, e tem sido atualizado desde então. Os pesquisadores verificaram que a rede mundial de áreas protegidas está longe de ser completa e que sua expansão tem que ser feita de forma estratégica. Isso significa dar maior ênfase às regiões do mundo com mais biodiversidade, sobretudo biomas com mais espécies endêmicas, ou seja, que não podem ser encontradas em outro lugar.

Catarina Chagas
Ciência Hoje On-line
07/04/04