Fauna marinha brasileira ganha três novas espécies

Três novas espécies de peixes brasileiros foram identificadas e estão sendo descritas. Duas ocorrem na região da Ilha da Trindade, no litoral do Espírito Santo, e uma no arquipélago de Fernando de Noronha, na costa do Rio Grande do Norte. Devido à grande semelhança, elas eram consideradas anteriormente pelos cientistas como pertencentes a espécies já conhecidas da costa do país.

Peixes dos gêneros Scartella (esq.) e Entomacrodus (dir.) que pertencem a novas espécies encontradas na Ilha da Trindade, a 1160 km do litoral do Espírito Santo
(fotos: João Luiz Gasparini)

As novas espécies pertencem à família Blenniidae, composta de peixes de pequeno porte, que alcançam no máximo 12 cm. Com coloração variável entre marrom e verde, eles se alimentam sobretudo de algas e vivem em águas rasas, como as piscinas-de-maré.

As novas espécies são endêmicas, resultado de anos de distanciamento entre as populações das ilhas e as que habitam a costa brasileira, segundo explica o biólogo marinho Carlos A. Rangel, pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos responsáveis pelo estudo. “As larvas desses peixes possuem pouca dispersão, o que facilita a longo prazo a especiação dos indivíduos que procriam entre si e geram novas espécies isoladas”, justifica.

Popularmente, os peixes da família Blenniidae são chamados de maria-
da-toca ou peixe-macaco. Por se esconderem em pequenas tocas e
fendas, costumam passar desapercebidos de pescadores e banhistas

Em seu mestrado, Rangel fez a revisão científica dos peixes do gênero Scartella e descobriu diferenças na morfologia externa e na coloração do corpo dos indivíduos das espécies encontradas nas ilhas, se comparadas às da costa do país. Amostras dessas espécies nas diferentes regiões foram analisadas em função da coloração e do número de raios nas nadadeiras dorsal e anal.

Foram estudados 48 indivíduos da espécie Scartella cristata coletados na costa do país, que apresentaram em média 15 raios na nadadeira dorsal e 17 na anal. Já os 28 indivíduos do litoral da Ilha da Trindade, além de serem mais escuros, com manchas pretas sobre a coloração marrom-esverdeada, tinham um número variado de raios nas nadadeiras: 14 dorsais e 15 anais, em média. “Esses indivíduos não pertencem à espécie S. cristata como se pensava, mas a uma nova espécie, ainda sem nome científico”, afirma Rangel.

A descrição dessa espécie será publicada ainda em 2003 na revista Aqua – Journal of Ichthyology and Aquatic Biology . Os novos peixes da Ilha da Trindade estão sendo descritos junto com os pesquisadores João Luiz Gasparini, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e Ricardo Z.P. Guimarães, da UFRJ.

Peixe de nova espécie do gênero Scartella, identificada no arquipélago
de Fernando de Noronha, a 350 km do litoral do Rio Grande do Norte
(foto: Liana F. Mendes)

A segunda nova espécie da Ilha da Trindade pertence ao gênero Entomacrodus. Rangel sugere que ela possa ser uma variação da espécie E. vomerinus , com ampla ocorrência na costa do Brasil. A terceira espécie a ser descrita pelo biólogo, junto com a pesquisadora Liana F. Mendes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pertence ao gênero Scartella e ocorre no arquipélago de Fernando de Noronha.

“Os peixes que descrevemos são muito parecidos com os da costa. Como não têm importância comercial, há menos interesse em classificá-los corretamente, talvez por isso sua identificação tenha levado tanto tempo”, explica Rangel. “Descobertas como essas são muito importantes para o conhecimento da biodiversidade e da fauna marinha brasileira.”

Maria Ganem
Ciência Hoje On-line
23/07/03