Fecundação in vitro pode salvar felinos silvestres

A fertilização in vitro , técnica que ajuda humanos com dificuldade de reprodução há alguns anos, pode ser a grande esperança de espécies de felinos silvestres ameaçados de extinção. A pesquisadora Regina Célia Rodrigues da Paz, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ -USP), verificou que hormônios de humanos, eqüinos e suínos sintetizados em laboratório são capazes de auxiliar os felinos no processo de reprodução.

Pesquisadores aplicam anestesia em jaguatirica e coletam óvulos para fecundação in vitro e implantação em ’mãe-de-aluguel’

A técnica tem sido testada em jaguatiricas e gatos-do-mato-pequenos, animais que habitam três grandes e sofridos ecossistemas brasileiros: Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia. A caça predatória e a degradação de seu hábitat colocam os dois felinos em risco de extinção.

Durante a pesquisa, Regina injetou em cinco jaguatiricas e quatro gatos-do-mato-pequenos uma mistura de hormônios: folículo estimulante (FSH) e luteinizante (LH), ambos de suínos, gonadotrofina coriônica eqüina (ECG) e gonadotrofina coriônica humana (HCG).

O FSH e o ECG estimulam o crescimento dos folículos do ovário, onde ficam os óvulos. O LH e o HCG estimulam a ovulação. A associação de todos esses hormônios resulta no que Regina chama de superovulação: “Com a ovulação normal, teríamos de dois a três óvulos. Com a técnica, esse número fica entre dez e doze”, explica.

Após a superovulação, recolhem-se os ovócitos – óvulos em estágio inicial de desenvolvimento – dos animais que receberam os hormônios, e após um período médio de 24 a 48 horas de maturação, os óvulos são fecundados in vitro e em seguida implantados em uma ’mãe-de-aluguel’.

Atualmente há 70 embriões de jaguatirica e 28 de gatos-do-mato-pequenos, oriundos de um trabalho conjunto entre USP, Associação Mata Ciliar e Zoológico de Cincinnati (EUA), conservados em botijões de nitrogênio líquido. Cinco jaguatiricas já receberam embriões, porém em apenas um caso a gestação se desenvolveu normalmente. Infelizmente, o filhote morreu logo após o parto.

Mesmo ainda sem sucesso com a fecundação, a técnica deu um passo importante para a preservação dos felinos silvestres a ela submetidos. De acordo com Regina, o enfoque principal da pesquisa deu bons resultados. “Conseguimos guardar material genético das espécies”, aponta a pesquisadora, “No futuro, com o avanço dos estudos, essa material poderá ser transferido para animais de vida livre.”

Aline Gatto Boueri
Ciência Hoje On-line
23/12/04