Filtro verde para a poluição

Se tem sido difícil respirar ar puro em São Paulo, é possível que essa dificuldade fosse ainda maior se não houvesse o Parque do Ibirapuera, uma área verde de 157 mil metros quadrados na região central da cidade. Um estudo mostra que a capacidade da vegetação de absorver e reter poluentes do ar atmosférico faz do local um grande aliado dos paulistanos.

Para comprovar a contribuição positiva da natureza para São Paulo e mostrar que florestas urbanas podem ser usadas para descontaminação atmosférica, a engenheira agrônoma Tiana Carla Lopes Moreira foi a campo pesquisar o assunto, que virou tema de sua dissertação de mestrado.

“A compreensão de como a floresta urbana interage com a poluição atmosférica é importante não apenas para o planejamento urbano, mas para a saúde pública”, explica a pesquisadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.

Foi observada uma grande quantidade de substâncias associadas à poluição na folhagem, como chumbo, zinco, cádmio e cobre

Entre fevereiro e março de 2009, ela coletou amostras de folhas de vários tipos de árvores do parque – como paineiras, jacarandá mimoso e ipê roxo.

A partir da análise do material, ela constatou a concentração de elementos associados à poluição, que teriam sido absorvidos pela vegetação. As folhas coletadas tinham o mesmo tempo de exposição aos poluentes.

Com ajuda de um equipamento que quantifica os elementos químicos presentes em uma amostra, foi observada uma grande quantidade de substâncias associadas à poluição, como chumbo, zinco, cádmio e cobre. “O zinco, por exemplo, é um micronutriente das plantas, mas em quantidade excessiva pode indicar sinais de poluição no ar”, explica Moreira.

Parque do Ibirapuera
De acordo com a pesquisa, a vegetação do Ibirapuera pode absorver parte da poluição atmosférica de São Paulo, como indica a alta presença de elementos associados à poluição presentes em sua folhagem (foto: Tiana Moreira).

Sem surpresas

Os maiores responsáveis pela poluição na cidade não surpreendem: os veículos. Com uma frota de quase sete milhões de carros, motocicletas e caminhões (segundo dados de julho de 2010 do Detran-SP), a cidade vê não só o trânsito piorar, como também a saúde dos que a habitam.

A análise indicou alta concentração dos elementos associados à poluição em áreas próximas às lombadas eletrônica – o parque também permite acesso de veículos. Esse seria um sinal de que o desgaste de peças do sistema de frenagem contribuiria para a contaminação do ar. As velas de ignição e o desgaste dos pneus também teriam sua parcela de culpa, causando a liberação de bário e cádmio, respectivamente, no ambiente.

“A vegetação funciona como um filtro, que ajuda a reduzir a poluição. Não soluciona o problema, mas podeamenizá-lo”

A conclusão do estudo é que florestas como a do Ibirapuera poderiam melhorar a qualidade do ar, além de reduzir a temperatura do ambiente e aumentar a umidade. “A vegetação funciona como um filtro, que ajuda a reduzir a poluição. A pouca densidade dessa vegetação não soluciona o problema, mas pode amenizá-lo”, explica.

Investir em áreas verdes poderia ser uma medida eficaz não só para São Paulo, mas também para outras cidades que sofrem com a poluição, aponta Moreira – ressaltando ainda o baixo custo da proposta.

Para os que criticam a ideia com o argumento de que há pouco espaço físico na cidade para árvores, a engenheira tem uma resposta. “Se as calçadas são estreitas e não comportam árvores de grande porte, uma vegetação rasteira pode ajudar na absorção de poluentes.”

Corredora no Ibirapuera
O Ibirapuera é a principal área de lazer de São Paulo, procurado para a prática de exercícios (foto: Tiana Moreira).

De modo geral, as espécies analisadas não apresentaram sinais de doenças por causa dessa absorção. Uma hipótese é que as plantas tenham adquirido resistência a esses elementos, que, em pequenas quantidades, funcionariam como micronutrientes.

Mas a pesquisadora conta que existem estudos em lugares como Cubatão que mostram o declínio de florestas devido à poluição. “Uma pesquisa mais longa no Ibirapuera poderia identificar, por exemplo, se as árvores crescem menos, possuem menos folhas ou sofrem mudanças em sua fisiologia”, diz a pesquisadora.

Moreira espera que os resultados da pesquisa despertem a atenção não só de autoridades para a poluição, mas também dos próprios moradores da cidade. “Não basta investir em mais áreas verdes. É preciso ter consciência de que também somos responsáveis por essa poluição”, conclui.

Debora Antunes
Ciência Hoje On-line