Fóssil descoberto no RS surpreende cientistas

O esqueleto do Exaeretodon riograndensis ainda está no bloco em que foi encontrado em julho e precisa passar por um processo de limpeza

O fóssil de um réptil pré-histórico encontrado no município gaúcho de Agudo pode trazer novidades para as pesquisas sobre o surgimento dos mamíferos. O esqueleto do animal foi descoberto em julho por uma equipe de pesquisadores da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), durante o monitoramento de sítios arqueológicos, e impressiona por estar praticamente completo.

O réptil da espécie Exaeretodon riograndensis , do grupo dos cinodontes, surgiu antes dos dinossauros e é considerado ancestral direto dos mamíferos. Ao contrário dos outros répteis, esses animais tinham as patas abaixo do corpo, com os joelhos articulados para frente e os cotovelos pra trás — exatamente como os mamíferos.

Até agora, porém, poucos estudos sobre o Exaeretodon riograndensis foram realizados, pois somente o crânio do animal já era conhecido. Encontrado em rochas de Ischigualasto, noroeste da Argentina, ele permitiu a produção de uma maquete com uma reprodução hipotética do corpo do animal. O achado brasileiro irá confirmar esse modelo e poderá, assim, esclarecer detalhes sobre a espécie — como o ambiente que habitava, como se alimentava ou qual era seu tamanho exato.

O novo esqueleto, com 228 milhões de anos, servirá também de guia na pesquisa sobre os cinodontes e o período Triássico — primeiro da época dos dinossauros. Seu estudo permitirá a comparação do E. riograndensis com animais do mesmo grupo encontrados na Argentina e na África do Sul.

Com um porte que variava do tamanho de um rato ao de um lobo, os cinodontes foram os primeiros animais a diferenciar dentes anteriores e posteriores, o que lhes dava maior capacidade de triturar alimentos e melhor adaptabilidade ao meio ambiente.

“O fóssil do E. riograndensis está muito bem preservado: apresenta quase 90% do corpo do animal, e deve por isso fornecer dados até então desconhecidos sobre a estrutura óssea da espécie”, explica o geólogo Valter Lisboa, um dos integrantes da equipe, formada também pelo paleontólogo Sergio Cabreira e pelo técnico em computação gráfica Joni Marcos Silva.

O esqueleto, no entanto, ainda está no bloco em que foi encontrado e precisa passar por um processo de limpeza que pode durar de quatro a seis meses. Fora do bloco, será observado por uma equipe de dentistas, paleontólogos e geólogos que, em cerca de três meses de estudo, poderá chegara às primeiras conclusões sobre o animal. “Esse achado transformará em conhecimento concreto o que ainda não passa de especulação no estudo dos cinodontes e do Triássico”, acredita Lisboa.

Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
21/09/04